quinta-feira, 24 de abril de 2014

Mircea Eliade e o homem moderno e a-religioso

 

mircea-eliade«De um certo ponto de vista, quase poderia dizer-se que, entre aqueles modernos que se proclamam a-religiosos, a religião e a mitologia estão “ocultas” nas trevas do seu inconsciente — o que quer dizer também que as possibilidades de reintegrar uma experiência religiosa jazem, em tais seres, muito profundamente neles próprios.

Ou, numa perspectiva cristã, poderia dizer-se igualmente que a não-religião equivale a uma nova “queda” do homem: o homem a-religioso teria perdido a capacidade de viver conscientemente a religião e, portanto, de a compreender e assumir; mas, no mais profundo do seu ser, ele guarda ainda a recordação dela, tal como, depois da primeira “queda”, e bem que espiritualmente cego, o seu antepassado, o Homem primordial, tinha conservado suficiente inteligência para lhe permitir reencontrar os traços de Deus visíveis no mundo.

Depois da primeira “queda”, a religiosidade caiu ao nível da consciência dilacerada; depois da segunda, caiu ainda mais profundamente, no mais fundo do inconsciente: foi “esquecida”. »

Mircea Eliade, “O Sagrado e o Profano — A Essência das Religiões”, Lisboa, 2006, página 219.

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