terça-feira, 1 de setembro de 2015

Cientismo, sociobiologia, e o altruísmo

 

Assim como a URSS era o Sol do Mundo para o Partido Comunista, assim os países nórdicos da Europa são hoje o Sol do Mundo para a actual Esquerda socialista. E uma das características culturais que marca o norte da Europa é o cientismo; senão, vejamos este artigo:

ltruismo genetico

Segundo a “ciência” nórdica, já se descobriu a razão para o altruísmo humano: está nos genes.

¿E qual o fundamento de tal “explicação”? É a comparação estatística entre gémeos idênticos, por um lado, e gémeos não-idênticos, por outro lado. Diz a “ciência” que os gémeos idênticos são mais propensos a dar sangue do que os gémeos não-idênticos, e que este facto é prova de que o altruísmo é genético.

Afirmar que o altruísmo é de origem genética é o mesmo que afirmar que o altruísmo não depende da vontade do indivíduo.

Segundo a sociobiologia, o ser humano é uma espécie de macaco; com excepção dos cientistas, como é óbvio.

Encontramos muitas formas de cooperação e de ajuda mútua entre os animais. Por exemplo, o gaio, que avisa o mundo das aves da passagem de alguém; ou a gaivota, que permanece fiel ao parceiro durante toda a vida; ou uma formiga trabalhadora que renuncia à sua própria descendência dedicando-se ao bem-estar das outras.

O que a “ciência” actual faz é colocar o ser humano no mesmo plano dos animais. Chama-se a isso “sociobiologia”, uma disciplina “científica” que se dedica ao estudo do comportamento dos animais, transpondo esses conhecimentos literalmente para o comportamento do ser humano. Segundo a sociobiologia, a última unidade elementar do comportamento biológico — extensivo aos animais e ao ser humano — é o gene.

Portanto, segundo a sociobiologia, não é o indivíduo que conta, mas sim o programa genético, cuja transmissão dos genes às gerações futuras é o maior objectivo de todos os seres vivos. E se certas formigas renunciam às suas (delas) descendências, (segundo a sociobiologia) o altruísmo delas é apenas aparente: o cálculo que a sociobiologia faz dos custos e vantagens de um comportamento desinteressado revela que uma formiga trabalhadora do formigueiro pode propagar os seus genes com sucesso bastante maior se investir na sobrevivência dos filhos da sua irmã, com a qual tem uma coincidência genética muito elevada — em vez de investir nos seus próprios filhos.

Neste sentido, o comportamento social e/ou o altruísmo, segundo a sociobiologia, é, na “verdade”, apenas um truque dos genes: o ser vivo não passa de uma multidão de moléculas para transmissão da informação genética. Por detrás de um comportamento cooperativo e/ou altruísta, (segundo a sociobiologia) está sempre uma estratégia inteligente dos genes de procura de vantagem. Em consequência, segundo a sociobiologia, nenhum ser humano age verdadeiramente bem, porque o interesse de sobrevivência dos genes está para além do bem e do mal (Nietzsche também defendeu esta tese, de uma forma indirecta).


A dádiva de sangue como consequência dos genes (consequência genética) vem nesta “lógica” da sociobiologia. A base da amizade é pura procura de vantagem. O parentesco espiritual entre amigos tem como objectivo o bem-estar dos genes. Qualquer caso de estratégia de sobrevivência do grupo social (por exemplo, a dádiva de sangue) deve ser considerado como um subproduto sem valor moral intrínseco e próprio. Um determinado ser humano dá sangue, não por causa da moral, da justiça, da solidariedade, mas tudo por causa de vantagens próprias (“uma mão lava a outra”; “toma lá, dá cá”).

Do ponto de vista da sociobiologia, o aborto e o infanticídio são estratégias económicas de reprodução — a que se chamam hoje “direitos reprodutivos”: a partir de um determinado número de crianças, uma criança a mais já não constitui um investimento razoável se com isso se dificulta a sobrevivência dos outros pequenos portadores de genes já existentes (uma criança é “uma pequena portadora de genes”). A vida social, cultural, política do ser humano reduz-se aos genes. Segundo a sociobiologia, o ser humano é uma espécie de macaco; com excepção dos cientistas, como é óbvio.

A ideia segundo a qual dois irmãos gémeos geneticamente idênticos são iguais espiritualmente, é absurda. Mesmo que dois seres humanos fossem clonados em laboratório, não seriam iguais do ponto de vista espiritual.

As estatísticas são feitas a partir de dados obtidos do passado; não há nenhuma garantia de que os dados comportamentais e sociais acerca do ser humano obtidos do passado e do presente se manterão válidos no futuro.

O estudo científico confunde três planos distintos do problema.

Em primeiro lugar, o estudo confunde genética, por um lado, e epigenética1 , por outro lado. Eu “daria até de barato” que o altruísmo tivesse uma forte influência da epigenética (relação com o meio-ambiente, herança cultural, etc.).


O raciocínio do estudo é o seguinte:

1/ dois gémeos idênticos têm um ADN idêntico;

2/ dois gémeos idênticos têm estatisticamente 50% maior tendência para dar sangue do que os gémeos não-idênticos;

3/ logo, → segue-se que o altruísmo é de origem genética.

O que se confunde no estudo é a ligação espiritual existente entre dois gémeos idênticos — e que pode não existir em semelhante gradação nos gémeos não-idênticos —, por um lado, com a identidade dos genes entendida como fundamento dessa ligação espiritual, por outro lado. É a sociobiologia a funcionar.

Vemos, por exemplo, aqui uma notícia: “gémeas idênticas identificam-se com os ideais dominicanos”. Seria absurdo que afirmássemos que essa identificação com os ideais dominicanos se devia a uma predisposição genética. O que acontece é que a ligação espiritual entre as duas gémeas idênticas é tão forte que, para onde vai uma, vai a outra — sendo que há sempre uma delas com maior influência sobre a outra e, por isso, mais determinante na adesão, neste caso, aos ideais dominicanos.

Da mesma forma que não podemos dizer que “a homossexualidade é de origem genética”, porque existem estudos que demonstram que, em uma determinada percentagem de gémeos idênticos, um é homossexual e outro não é — de forma semelhante não podemos dizer que “o altruísmo é de origem genética” apenas porque, em uma determinada percentagem de gémeos idênticos, os dois são dadores de sangue.

O mais que podemos afirmar é que a homossexualidade e o altruísmo (por exemplo) têm uma forte componente epigenética; mas isto tem mais a ver com a cultura e com livre-arbítrio (liberdade) do ser humano do que com o determinismo do ADN.


Nota
1. A epigenética consiste no conjunto de mudanças cromossómicas estáveis e transmissíveis ao longo das gerações que não implicam alterações na sequência do ADN. Por outras palavras, a epigenética determina a herança geracional de determinadas características auto-adquiridas.

1 comentário:

  1. Trata-se de Marxismo Cultural no seu melhor. Ainda esta semana escrevi sobre isso aqui:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2015/08/o-marxismo-cultural-e-destruicao-da.html

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