sábado, 28 de novembro de 2015

O “paganismo nacionalista” do PNR (Partido Nacional Renovador)

 

Escreve-se aqui o seguinte:

“O Cristianismo perdeu a "magia" que em tempos teve e na Europa depara-se hoje com um sério problema. É que o mais do que evidente ressurgimento dos nacionalismos e identitarismos na Europa faz um apelo directo às raízes da tradição europeia e isto em termos religiosos constitui um grave problema para os cristãos, pois as raízes religiosas da Europa nunca foram nem o Judaísmo, nem o Cristianismo, mas sim o Paganismo politeísta que no caso europeu se divide em inúmeras "famílias" de cultos pagãos, cada qual com a sua identidade e tradições próprias”.

Vamos analisar este trecho.


1/ os paganismos não são só característica da Europa pré-cristã; são também característica de praticamente todas as sociedades primordiais e em todo o mundo. O paganismo assume, em todo o mundo primordial, formas diferentes de acordo com diferentes mitos.

2/ os tradicionalistas propriamente ditos não defendem a tradição apenas pela sua defesa. Por exemplo, a tradição islâmica da excisão feminina não é racionalmente defensável em nenhum ponto possível; a tradição islâmica da poligenia também não; ou a tradição religiosa do canibalismo nas sociedades primordiais não é racionalmente defensável.

Portanto, alguém que se diga “tradicionalista” e que defenda as tradições de uma forma irracional, não é tradicionalista porque coloca em causa, por intermédio da sua irracionalidade, a continuidade cultural da própria noção de “tradicionalismo”.

3/ Uma das características do PNR (Partido Nacional Renovador) é a presença ideológica de um determinado “paganismo” que é emulado do paganismo primordial alemão e nórdico que alimentou o nazismo (Romantismo alemão). Portanto, o paganismo do PNR (Partido Nacional Renovador) pouco tem a ver com o paganismo pré-cristão português que está próximo dos cultos religiosos introduzidos pelo império romano (e não a república romana) na península ibérica através dos soldados romanos.

Por outro lado, o PNR (Partido Nacional Renovador) é um partido que defende a presença omnipresente e omnipotente (e quiçá omnisciente) de um Super-Estado em Portugal. Por esta duas características não podemos afirmar que o PNR (Partido Nacional Renovador) seja propriamente um partido conservador e/ou tradicionalista.

A tradição portuguesa, desde a fundação da nacionalidade, é a limitação do poder do Estado que só foi adulterada com a introdução do absolutismo francês.

4/ o assunto do paganismo na Europa é demasiado complexo para ser tratado aqui ou em qualquer blogue. Mas poderemos afirmar que foi o paganismo grego, por um lado, e o paganismo oriental (cultos de Ísis, Ashera, e principalmente o culto de Mitra, etc.) introduzidos pela soldadesca romana que mais influenciou a sociedade pré-cristã em Portugal.

5/ O sistema grego dos deuses do Olimpo em Atenas era apenas uma “religião formal e oficial de Estado”, por assim dizer, e não coincidia com os cultos religiosos populares.

Vejamos o que escreveu o grego Xenófanes em verso:

“Com o nariz achatado, negros: eis como os etíopes vêem os deuses.
Mas de olhos azuis e louros, é assim que aos seu deuses vêem os trácios.
E os bois, os cavalos e os leões, se tivessem mãos,
mãos humanas, para desenhar, para pintar, para esculpir,
os cavalos pintariam deuses iguais aos cavalos, os bois iguais aos bois,
e criariam as suas figuras, as formas dos corpos divinos
segundo a sua própria imagem: cada um conforme a sua”.

Ou seja, Xenófanes, o grego, verificou que o culto pagão, em geral, é antropomórfico. Xenófanes era mais inteligente do que a esmagadora maioria dos homens hodiernos.

Escreve Xenófanes:

Um só Deus é supremo entre os deuses e os homens,
não à imagem dos mortais ou dos seus pensamentos,
permanece sempre no mesmo lugar, imóvel,
e também não lhe convém vaguear de um lado para o outro,
facilmente faz vibrar o Universo apenas com o seu Saber e Vontade,
Ele é a visão total: todo o pensamento e todo o planear: e é todo o ouvir”.

Convém que os leitores saibam que Xenófanes viveu muitos séculos antes de Jesus Cristo, por um lado, e, por outro lado, que ele herdou a tradição pitagórica que também influenciou Platão que, por sua vez influenciou, através do neoplatonismo, o Cristianismo primordial da patrística. Portanto, a ideia segundo a qual “a religião pagã dos deuses do Olimpo era a religião popular na Grécia”, é falsa.

5/ todas as religiões pagãs são imanentes .

Até o Judaísmo foi uma religião imanente até pouco tempo antes do nascimento de Jesus Cristo (com a diferenciação clara entre fariseus e saduceus), e, por isso, podemos dizer que o monoteísmo judaico foi um “monoteísmo imanente” durante muitos séculos. O Judaísmo só se transformou verdadeiramente em uma religião transcendente a partir da destruição do templo de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.

6/ Escreve Xenófanes:

“Não é desde o início que os deuses revelam tudo aos mortais.
Mas com o correr do tempo, procurando, descobrimos melhor”.

A diferenciação cultural introduzida por Jesus Cristo foi a transcendência monoteísta de que nos falava já Xenófanes com a noção de “Deus supremo”.

Esta diferenciação cultural é única em todo o mundo e em todas as religiões. A noção de “transcendência” é estranha à qualquer tipo de paganismo — incluindo o paganismo antropomórfico actual dos mitos culturais urbanos dos ídolos humanos (por exemplo, CR7) e o culto do dinheiro. Assim como os etíopes viam os deuses imanentes com nariz achatados e negros, assim o homem hodierno vê os deuses imanentes com muito dinheiro e pertencendo à “socialite”.

7/ o paganismo, seja qual for, é um retrocesso civilizacional, uma espécie de retorno a um neolítico actual.

Identificar positivamente um retorno ao neolítico, por um lado, com o nacionalismo português, por outro lado, é um absurdo — porque Portugal, como nação, foi fundado tendo como base o Cristianismo.

Sem Cristianismo não há Portugal; e os internacionalistas e globalistas sabem disso.

3 comentários:

  1. Houve uma grande confusão em alguns dos meus leitores que julgaram que eu com esse artigo pretendia advogar uma espécie de regresso ao Paganismo. Ora, nada podia estar mais errado, pois eu nunca tive a intenção de criar um debate de Paganismo vs. Cristianismo, mas sim apenas expôr como a actual crise do Cristianismo tem servido de combustível para alimentar o neopaganismo.

    Não quero guerras entre pagãos e cristãos, pois para isso já bastaram as perseguições entre ambos na Idade Clássica e Medieval.

    Na prática, também não vejo qual é o mal de um cristão participar em jantares ou festas de temática neopagã, desde que não sejam para andar a espalhar ódio contra cristãos. É mais uma bricadeira inocente do que outra coisa qualquer.

    Eu sou cristão baptizado e hei-de morrer cristão, mas confesso que tenho uma "costela" pagã que trouxe dos Estados Unidos. Por lá a grande festa pagã é o Halloween, comecei a celebrá-lo com apenas 4 anos de idade e ainda hoje é um festival pagão que me fascina.

    Aliás, no Porto até há já um restaurante com temática pagã, neste caso a celta:

    https://www.facebook.com/RestauranteCeltaEndovelico/

    Nunca fui lá comer, mas dizem-me que é interessante.

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    1. Não é o Cristianismo que está em crise. Quem está em crise é a sociedade.

      Normalmente não devemos brincar com coisas sérias.

      As pessoas vulgares não fazem ideia do que é e o que significa o “dia das bruxas”.

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    2. Um bbom exemplo da crise da soceidade é a quantidade de satânicos que por aí andam. O Satanismo (coisa arrepiante...) anda por aí a contaminar a cabeça a muita gente que devia era de ir a um psicólogo ou coisa do género.

      Posso-lhe dar um bom exemplo disto. Tive um colega em Coimbra que era assumidamente satânico, vestia-se de preto, comprou uma Bíblia Satânica na internet e lia aquela merda todos os dias para "cultivar o poder o demónio" como ele próprio dizia.

      Tratava-se de uma pessoa claramente desiquilibrada, uma vez chegou a levar um machado de cortar lenha para uma aula, de outra vez cortou os tubos de óleo da carrinha do pai, para tentar assassinar o próprio pai e ele gava-se disto como se fosse a melhor coisa do Mundo!

      O Satanismo é coisa típica de gente doente, mas não misturar o paganismo e a belíssima mitologia Celta, com essa porcaria satânica, pois não têm absolutamente nada a ver uma coisa com a outra.

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