sábado, 10 de dezembro de 2016

Os juízos de valor são juízos de facto

 

Um juízo de facto é um juízo que descreve a realidade sendo, por isso, considerado objectivo, verificável e susceptível de ser considerado verdadeiro ou falso. Por exemplo: “Lisboa é uma cidade”, é um juízo de facto (verdadeiro, neste caso).

O Desidério Murcho coloca aqui algumas perguntas:

“Será que todos os juízos de facto são facilmente verificáveis ou confirmáveis, sendo isso que os distingue dos juízos de valor? Será que todo o juízo ou é de facto ou é de valor? Serão todos os juízos de valor normativos? E um juízo filosófico como “O livre-arbítrio não é compatível com o determinismo”, será um juízo de facto ou de valor?”

A definição de “juízo de facto” responde já a algumas das perguntas. Um juízo de facto pode ser falso ou não-verificável. Por exemplo, a proposição: “todos os deuses falam grego”, não é empiricamente verificável, e por isso não sabemos se é verdadeira ou falsa. E há juízos de facto assumidos, que são falsos: por exemplo, posso assumir como um facto que a minha tia foi passar o fim-de-semana ao Algarve e isso não ter acontecido.

Porém — e voltando às perguntas do Desidério Murcho — a oposição entre juízos de facto e juízos de valor pode ser mais aparente do que real.

O uso do juízo de valor enuncia o que “deve ser”, e o que “não deve ser”.

Embora não possa existir uma ciência normativa constituída por juízos de valor, mas apenas uma ciência crítica, podemos contudo tomar como base de discussão a afirmação inversa: os juízos de valor são juízos de facto que enunciam, embora de forma “indirecta”, o pensamento (que é efectivamente um facto) "valorizador" daquele que fala.

Se um juízo de valor é racionalmente fundamentado, universal e intemporal, então esse juízo de valor é um juízo de facto objectivo e verdadeiro até prova racionalmente fundamentada em contrário.

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