sábado, 21 de outubro de 2017

As contradições do David Benatar e do anti-natalismo

 

As pessoas que abraçam ou adoptam o Utilitarismo são as mais patéticas que poderiam existir.

manguito-webPorém, o mais estranho é que se considere o Utilitarismo uma filosofia, no sentido em que os seus especuladores sejam considerados “filósofos” — como é o caso de Peter Singer, e no caso vertente, de um idiota que dá pelo nome de David Benatar e que (desgraçadamente) é professor de filosofia em uma universidade da África do Sul.

Benatar vai mais longe do que Peter Singer, na medida em que o primeiro defende a ideia de que “todas as pessoas não deviam ter nascido” — mas ele ainda não se suicidou, para mal dos nossos pecados. Ou, pelo menos, ele pensa que as pessoas não devem ter filhos; e chama a essa teoria “anti-natalismo”. Peter Singer não foi tão longe.

Uma das características (tanto de Peter Singer como de Benatar e de todos os utilitaristas) do Utilitarismo é a capacidade que os utilitaristas têm de saber quanto vale uma vida humana (em geral); eles conseguem fazer o cálculo do valor da vida humana — quando, em geral, não existe um consenso sobre quanto vale uma vida humana.

Benatar baseia a sua teoria, literalmente, em Bentham e no cálculo de prazeres e dores (epicurismo). Um utilitarista é, desde logo e na melhor das hipóteses, um epicurista moderno.

Este texto de Benatar (que dizem ser um ensaio) está repleto de contradições — a começar pela estória de um indivíduo que lhe escreveu uma carta em que se queixa de que é muito feio e que, por isso, é desprezado pela comunidade; e, para além disso, tem uma doença cardíaca congénita e tem um enorme medo de morrer a qualquer momento. Ou seja: por um lado, esse indivíduo acha que não deveria ter nascido; mas, por outro lado, tem medo de morrer.

Outra contradição fundamental e primária é a de Benatar pensar a sua (dele) própria não-existência.

Kant defendeu a ideia segundo a qual um ser humano é, em geral, mais ou menos (dependendo dos indivíduos), responsável no sentido moral; e para que um ser humano tenha a possibilidade de ser responsável moralmente, tem que ter uma autoconsciência contínua — o que não significa que necessite dessa autoconsciência para ser considerado “pessoa”.

Em função dessa autoconsciência contínua, o desempenho mais importante é, sem dúvida, a formação de juízos: sem pensamento não existe qualquer filosofia e/ou qualquer ciência. A autoconsciência contínua é a condição lógica da nossa percepção do mundo, porque sem os seus juízos não saberíamos se, e como existe o mundo, incluindo o ser humano.

A reflexão de um ser humano acerca de si próprio leva-o ao reconhecimento da existência de um mistério insondável no qual se baseia o Mundo, e também o Eu do ser humano: o Eu (do ser humano) transcende infinitamente o pensamento, e é uma forma de manifestação daquilo que engloba o sujeito e o objecto. Por isso é que se revela necessário um enorme número de conceitos para descrever a Realidade, à qual, em última análise, só tem acesso cada ser humano individual (enquanto indivíduo).

A ciência descreve as coisas a partir da perspectiva da terceira pessoa; mas a autoconsciência contínua do ser humano só pode ser descrita adequadamente a partir da perspectiva da primeira pessoa (subjectividade). Esta é uma das razões por que é estúpido pretendermos saber ou afirmar o valor da vida dos outros.


Schelling chamou à atenção para o facto de não ser possível pensar a subjectividade sem contradições — porque a subjectividade é “circular” (do sentido de “redundante”), em si mesma (auto-referencialidade, ou referência circular). Por exemplo, a seguinte frase:

“Houve um tempo em que eu não vivia, e haverá um tempo em que não viverei”.

Tentando imaginar a minha própria não-existência, tenho que produzir uma imagem de mim próprio, como se eu fosse outra pessoa. No entanto, é óbvio que não podemos saltar para fora de nós próprios, de forma a pensarmo-nos a partir do exterior. Se me penso a partir do exterior, não me penso a mim; e se me penso a partir do meu interior não posso pensar como seria não existir.

É esta contradição que deita por terra toda a teoria da apologia da não-existência do burro Benatar que, por acaso, é professor universitário de filosofia.

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