quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Os mirones do Miró

 

miroEu não sou grande apreciador de pintura moderna. Ou melhor: não sou apreciador. Ponto final. Deve ser defeito meu: acredito que os quadros do Miró possam ser a máxima expressão da pintura, mas o problema é o de que eu não consigo ver neles grande coisa. Por exemplo, este quadro de Miró na imagem aqui ao lado faz lembrar um desenho pré-escolar de um dos meus filhos. Mas há gente que considera aquilo uma coisa do outro mundo e dizem que “os gostos não se discutem”. Mas a verdade é que os gostos discutem e são discutidos.

As coisas valem aquilo que dão por elas. Se alguém dá milhões de Euros pelo quadro aqui ao lado, em princípio é porque existem malucos que atribuem valor ao autor da obra e não à obra propriamente dita. Vivemos no tempo do “quem”, e já não no tempo do “o quê”. Não interessa o que se faz, mas antes quem faz. Hannah Arendt chamou a esta atitude do “quem”, o “filistinismo burguês”, e são hoje os anti-burgueses que parecem ser os filistinos desta história.

Portanto, eu não sou um mirone do Miró. Dou mais valor a uma peça da arte antiga portuguesa do que à colecção inteira dos quadros de Miró. Eu não iria nunca de propósito a Lisboa para mirar os quadros do Miró. Está fora de questão: iria lá mais depressa comer uns pastéis de Belém, ou ao Campo Pequeno ver um espectáculo da arte da tourada.

Portanto, caro Passos Coelho, por mim você pode vender os quadros do Miró desde que seja dentro da legalidade. Desde que você cumpra o formalismo processual da venda dos Miró, está tudo certo. Eu sei que existem por aí um mirones do Miró que nunca miraram nada dele mas que se doem de alma pela venda dos quadros; mas, lá no fundo, dão tanto valor ao Miró quanto eu dou. Por isso, que se vendam os Miró dentro do formalismo legal (o que não aconteceu desta vez!) para que os mirones do Miró se esqueçam deles e passem a mirar outro fait-diver qualquer.

1 comentário:

  1. A propósito do valor da arte moderna vi, no vimeo, um documentário do Roger Scruton chamado "Why Beauty Matters". Eu achei muito bom, recomendo vivamente.

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