terça-feira, 23 de setembro de 2014

Por que não sou tradicionalista

 

O tradicionalismo é um fenómeno cultural moderno. Em uma sociedade tradicional, ninguém pensa em tradicionalismo: “as coisas são como são e não poderiam ser de outra maneira”. O apelo à tradição, feita pelo tradicionalismo, revela já uma alienação em relação à tradição: ninguém apela para a necessidade de um status quo estando dentro dele.

Uma pessoa que vive a tradição não é um tradicionalista. Um tradicionalista vê a tradição do lado de fora, como se vêem os objectos de uma montra de uma loja do lado da rua. É preciso entrar na loja para ver a montra do lado de dentro, e aqui a perspectiva já é diferente, porque os objectos expostos na montra passam a fazer parte do nosso meio-ambiente.

Por isso, quem vive a tradição não diz de si mesmo que é “tradicionalista”, porque isso seria assumir uma redundância: seria como se eu dissesse que o meu nome é Orlando Orlando. Quando um “tradicionalista” diz que é “tradicionalista”, raciocina em um círculo vicioso. Por isso é que eu não sou tradicionalista; gosto de ver a tradição da parte de dentro.

2 comentários:

  1. Obviamente que estou de acordo em princípio.

    Mas a pergunto-lhe: é possível viver a tradição nos dias de hoje? Creio que não.

    Hoje é necessário um esforço consciente para ser tradicional. Ora mas se é preciso um esforço consciente para manter viver a tradição, é porque somos tradicionalistas e não mais meramente tradicionais.

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    1. A tradição vive-se por dentro, e não por fora. Foi o que eu quis dizer com o meu relambório.

      E quem vive a tradição por dentro, não é tradicionalista, na medida em que a tradição ou está dentro de nós, ou é algo que nos é estranho --- embora a possamos procurar fora de nós.

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