domingo, 15 de março de 2015

Um ateu só pode ser ou burro, ou casmurro, ou ignorante

 


“Nenhum facto pode ser verdadeiro ou real, ou nenhum juízo pode ser correcto, sem uma razão suficiente.” — Leibniz


No seu livro “Filosofia Quântica” (edição americana, páginas 191/192), o físico francês Roland Omnès  fala-nos do “efeito de túnel” ou “salto quântico” (tradução livre):

“Mesmo um objecto do tamanho da Terra pode estar sujeito a um efeito de túnel, pelo menos em princípio. Enquanto a força gravitacional do Sol impede a Terra de se afastar através de um movimento contínuo, contudo o nosso planeta poderia subitamente encontrar-se na órbita da estrela Sírio mediante um efeito de túnel.

(…)

Felizmente, mesmo que o determinismo não seja absoluto, a probabilidade da sua violação é extremamente pequena. Neste caso, a probabilidade da Terra se afastar do Sol é tão pequena quanto a de 10^200 (1 seguido de 200 zeros). (…) Em termos práticos, é um acontecimento que não terá lugar.

(…)

Uma característica destas flutuações quânticas [o efeito de túnel] que violam o determinismo [das leis da física clássica], é a de que não podem ser replicadas (repetidas).

Imaginemos que um efeito de túnel foi observado por muitas pessoas: elas vêem uma pequena pedra  subitamente aparecer em um lugar diferente do que estava há milésimos de segundo. Essas pessoas realmente viram o fenómeno, mas nunca serão capazes de convencer mais alguém; nunca poderão demonstrar de forma irrefutável que o fenómeno se possa repetir. Tudo o que essas pessoas podem fazer é jurar: “Juro que a pedra estava ali, à  minha esquerda, e que subitamente apareceu à  minha direita!”. Em resposta, as pessoas que não assistiram ao fenómeno atribuirão esse juramento a gin ou whisky em demasia, outras dirão que aquela gente está maluca, e as pessoas que assistiram ao fenómeno acabarão por se convencer de que foram vítimas de uma alucinação.”


O Ludwig Krippahl escreve o seguinte:

“Hipóteses acerca de milagres ou magia devem ser relegadas ao fim da lista porque não as conseguimos testar. É sempre melhor optar por hipóteses testáveis pois só essas permitem corrigir erros.”

Por exemplo, um efeito de túnel pode ser possível em pequenos objectos — a probabilidade de efeito de túnel aumenta na proporção inversa da massa de um objecto. O efeito de túnel em uma onda quântica é coisa corriqueira. O efeito de túnel em um átomo é coisa vulgar. O efeito de túnel em uma molécula é altamente provável. À  medida em que a massa de um objecto aumenta, diminui a probabilidade de efeito de túnel — o que não significa que o efeito de túnel em uma pequena pedra, por exemplo, seja improvável ou inverosímil.

Se é praticamente impossível que a Terra saia da sua órbita por efeito de túnel, a probabilidade de efeito de túnel  aumenta muitíssimo quando se trata de uma pequena pedra, por exemplo. No entanto, o efeito de túnel não é um milagre no sentido teológico do termo; mas, se acontecesse um fenómeno destes visto por um grupo de pessoas, o Ludwig Krippahl iria dizer que “milagres ou magia devem ser relegadas ao fim da lista porque não as conseguimos testar — e com alguma razão diz ele o que diz, porque como escreveu Roland Omnès, o fenómeno de efeito de túnel de uma pequena pedra visto por aquele grupo de pessoas seria praticamente irrepetível e, portanto, não seria “testável”.

E continua o Ludwig Krippahl:

“Portanto, a forma racional de concluir acerca do que existe não é escolhendo boas razões. É organizando a informação relevante numa interpretação consistente que dependa o menos possível de premissas gratuitas e assente o mais possível em hipóteses testáveis e informativas.”

Confunde-se aqui “boas razões”, por um lado, com as “razões suficientes” de que nos falava Leibniz. Quando se diz “boas razões”, quer-se dizer “razões suficientes”.

Por outro  lado, um fenómeno como o efeito de túnel não é “testável” estatisticamente, mas nem por isso é impossível — a não ser que o Ludwig Krippahl, do alto da sua sabedoria ateísta, considere o físico Roland Omnès como um idiota ignorante (eu não ficaria espantado se tal acontecesse). Aliás, note-se que Roland Omnès é agnóstico, mas mais humilde do que o Ludwig Krippahl.

Outra burrice do Ludwig Krippahl é falar em “vários deuses propostos por aí”, em vez de se ater à  possibilidade de um princípio causal do universo a que o Cristianismo chama de Deus, o Taoísmo de Tau, o Judaísmo chama de Yahweh, o Islamismo chama de Alá, etc.. — o que apenas revela, da parte dele, uma total ignorância da história das religiões, e, portanto, ele fala daquilo que absolutamente desconhece, o que é lamentável.

O que o Ludwig Krippahl pretende dizer, em resumo, com aquele relambório contra as “crenças religiosas”, é o seguinte:

O critério da verdade é a verificação  1. Tudo o que não é verificável é de verdade duvidosa”.

Por um lado, o fenómeno relatado por Roland Omnès do efeito de túnel de uma pequena pedra, sendo possível, não seria nunca, jamais, verificável. Portanto, mesmo que o dito fenómeno seja visto por um grupo de pessoas, é considerado pelo Ludwig Krippahl como uma falsa crença talvez devido a uma alucinação daquelas pessoas (ou muito vinho à  mistura).

Mas, por outro  lado, essa proposição (“o critério da verdade é a verificação”)  não é, ela própria, verificável! — o que significa que a ciência parte do mesmíssimo princípio metafísico que fundamenta as religiões; mas duvido que alguma vez o Ludwig Krippahl derreta o alcatrão que tem no cocuruto da sua (dele) cabeça para perceber uma coisa tão simples.


Nota
1. Processo que permite estabelecer a verdade de uma proposição. A verificação demonstrativa pertence à ordem do cálculo, no que diz respeito às ciências formais.

Nas ciências empíricas, é discutível falar de "verificação". Karl Popper demonstrou que se pode estabelecer experimentalmente a falsidade de uma hipótese, embora não seja possível estabelecer a sua verdade (falsificabilidade). Quando a hipótese passa com sucesso um controlo que a poderia ter “falseado”, é melhor falar, em vez de “verificação”, de confirmação ou de corroboração, que são sempre “até prova em contrário”.

2 comentários:

  1. Texto confuso e sorrateiro, como é típico de autores ateus e materialistas.

    Texto confuso, porque a expressão dele é inadequada: começa falando que há "boas razões" para crer em Deus; em seguida, diz que as "boas razões" são uma "amostra tendenciosa da informação relevante". Ora! Se são amostras tendenciosas, então as tais razões não são boas. Resulta que ele usa expressão "boas razões" de forma confusamente figurada, como significando tão somente "fatos impressionantes", fatos que nos causam impressão sem necessariamente serem dignos de tal sentimento após um exame comedido. Para usar o mesmo exemplo empregado pelo autor, o fato de haver muita gente que fala em Papai Noel nos causa a todos impressão; uma pessoa mais emotiva logo conclui que o Papai Noel provavelmente existe, somente pelo fato impressionante de haver muita gente que fala nele.

    Mas a confusão verbal é perdoável se o autor é honesto e tende a pensar retamente. O problema é quando se aproveita dessa confusão para inculcar no leitor uma concusão errada.

    Por isso o texto é também sorrateiro, porque induz o leitor a concluir que as pessoas creem em Deus por conta do que ele chama de "boas razões", isto é, por conta de "fatos impressionantes", como o de que há muitos que falam nele. Sem vergonha!Quer induzir o leitor a ver os crentes como bobinhos e emotivos, afeitos a qualquer lenda ou tolice que se lhes conte.

    Ao contrário: eu não creio em Deus por causa daquilo que ele chama de "boas razões"; PARA USAR AS PALAVRAS DELE, creio em Deus por causa das "interpretações consistentes de tudo o que percebo ser relevante"; creio em Deus porque "evito a multiplicação de hipóteses ad hoc que só sirvam para proteger uma conjectura"; creio em Deus porque "tenho em conta a possibilidade de erro na criação das hipóteses interpretativas, e dou preferência àquelas que, se forem falsas, mais facilmente o revelem".

    Pintar o crente como um tolo sentimentaloide tem, na retórica do ateu, o papel de evitar o confronto científico com A IMENSIDÃO DE FATOS QUE NOS LEVAM A CONCLUIR QUE DEUS EXISTE, QUE A FÉ CATÓLICA É A ÚNICA VERDADEIRA E QUE A IGREJA FUNDADA POR CRISTO É SUA GUARDIÃ.

    Tomemos como ilustração os eventos de Fátima. Quem quer que se informe adequadamente sobre tais eventos, compreende que eles tiveram origem sobrenatural. A vastidão de fatos extraordinários lá ocorridos CONVERGE PARA A EXPLICAÇÃO DE QUE A ORIGEM DO EVENTO FOI SOBRENATURAL. O materialista cínico e arrogante que reduz tais eventos a uma mera lenda criada por espertalhões e repetida por camponeses ignorantes precisa apelar para - USANDO AS PALAVRAS DO AUTOR - "uma multiplicação de hipóteses ad hoc que só servem para proteger uma conjectura", isto é: a hipótese de que três criancinhas tenham criado uma mentira e levado ela convincentemente até o fim de suas vidas, aguentando até mesmo a prisão e ameaças de morte; a hipótese de que milhares de pessoas tenham sofrido ilusões com relação a pequenos eventos extraordinários que antecederam o "milagre do sol", envolvendo visões de estranhas esferas luminosas no céu e audições de sons estranhos, ambos na hora das aparições, e até mesmo o aroma das folhas da árvore em que pousava Nossa Senhora; a hipótese de que um evento meteorológico extraordinário tenha ocorrido na exata hora em que as crianças previram que Nossa Senhora faria um grande milagre; a hipótese de mera coincidência de que Jacinta tenha previsto sua morte em Lisboa... e por aí vai! Bons livros não faltam para quem quer se informar a respeito.

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  2. Enfim, negar a origem sobrenatural dos eventos de Fátima demanda apelar para uma convergência inacreditável de engodos, conspirações e coincidências que EXIGEM MUITO MAIS "FÉ" DO QUE A HUMILDE ACEITAÇÃO DE QUE OS TAIS EVENTOS FORAM SOBRENATURAIS.

    Isso só para falar de Fátima, que é, dentro de toda a história da Fé e da Igreja, só uma pequenina parte. Pensemos em tudo o mais na história da Fé e da Igreja que não pode ser explicado convincentemente através de conspirações e coincidências. A "Boa Nova" narrada por quatro homens, sem divergências entre eles, e que cumprem tudo o que estava previsto no Antigo Testamento; profecias da era cristã que se cumprem com precisão; a vida virtuosa dos santos; curas inexplicáveis; hóstias que sangram; corpos que não passam pelo processo normal de decomposição... a lista não tem fim.

    Basta humildade e boa vontade para compreender essas coisas.

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