quarta-feira, 26 de julho de 2017

A família real portuguesa é descendente de Maomé — dizem eles

 

Li algures, na Internet, uma tese segundo a qual Donald Trump era descendente da família real inglesa (através da mãe de Trump, que era escocesa), directamente desde Henrique VIII.

A tese era verosímil: havia no artigo uma “árvore genealógica” que ia buscar parentesco real a todo o lado, e todo o bicho-careta ascendente da mãe de Donald Trump tinha sangue azul. É claro que é possível que Donald Trump possa ser eventualmente descendente de um bastardo real qualquer; pode ser, mas não há factos documentados que sejam credíveis e que comprovem que Donald Trump seja descendente de Henrique VIII.

Portanto, não havendo provas, teremos que ser racionais e considerar falsa a alegação segundo a qual Donald Trump é descendente da família real inglesa. Ponto final.


Hoje vi uma tese ainda mais extraordinária: “a família real portuguesa é descendente de Maomé” — ver imagem em baixo, ou ir a esta ligação.

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A tese é defendida por um indivíduo que se chama “Nova Portugalidade”; ou seja, a defesa desta tese é anónima.

Segundo a tese, O Condestável D. Nuno de Álvares Pereira seria descendente dos “califas de Damasco” e “através da Casa da Maia” (?).

catarina-martins-neanderthal-webO leitor repare bem nisto: os historiadores não sabem, com certeza, o local de nascimento de D. Nuno Álvares Pereira [uns dizem que ele nasceu em Cernache de Bonjardim, e outros dizem que ele nasceu em Flor da Rosa]: mas o “Nova Portugalidade” sabe com certeza que ele era descendente de Maomé através dos “califas de Damasco”. Prodigioso!

E ¿o que são os “califas de Damasco”? É o califado Omíada, que tinha capital em Damasco, e que foi extinto e derrotado pelo califado Abássida que mudou a capital de Damasco para Bagdade.

Ora, os herdeiros políticos do extinto califado Omíada foram os califas de Córdova que constituíam o Al-Andalus que o Nova Portugalidade diz que “não tem nada a ver com o Aga-Khan” — e aqui é possível que ele tenha razão, ou não: simplesmente não há provas de uma coisa ou do seu contrário.

O leitor repare bem : todos nós somos descendentes de Adão e Eva.

O primeiro problema é o de saber se Adão e Eva existiram de facto — é possível que tenha “surgido” um primeiro casal da espécie Homo Sapiens Sapiens em um qualquer ponto remoto da Pré-história; e depois teremos que saber se alguns dos nossos ancestrais do paleolítico não se misturaram com a espécie de Neanderthal que se extinguiu há cerca de 30.000 anos — o que faz com que a descendência de Adão e Eva seja menos directa em uns homens actuais do que noutros.

O que nós sabemos de Maomé é que (entre outras coisas) ele tinha uma doença que se chama Acromegalia que tinha como consequência (entre outras) uma imensa dificuldade em procriar a partir de determinada idade; por isso é que Maomé chegou a ter 11 “esposas”, sendo que nove delas em simultâneo.

Maomé teve três filhos e quatro filhas de duas mulheres apenas: as outras nove mulheres (incluindo uma “cunhada” que ele obrigou a divorciar-se do respectivo marido) não tiveram filhos dele. Todos os filhos e filhas de Maomé morreram antes dele e antes de chegarem à idade adulta — excepto uma filha, Fátima, que sobreviveu e que garantiu a descendência de Maomé com o acasalamento com Ali que é o chefe espiritual xiita.

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Dos dois filhos de Fátima e de Ali, apenas um deles deixou descendência: Husayn Bin Ali. Dizer que D. Nuno Álvares Pereira é descendente de Husayn Bin Ali — mesmo sabendo que existiu cruzamento de sangue árabe com sangue godo na península ibérica no reino de Granada — é quase uma impossibilidade matemática. Ou especulação histórica.

2 comentários:

  1. Oh Pah isto faz-me lembrar a theoria Q as mulheres são todas putas... Li tb Q Marine LePen era descendente do Moamerdas ...SÃO MODINHAS da merda

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  2. https://twitter.com/AncestryCA/status/823290926936117248

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