segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Qual é a religião do povo Yazidi que os islamitas tanto odeiam?

 

Os Yazidis seguem uma religião é que é essencialmente o Zoroastrismo que influenciou o Cristianismo e o próprio Islamismo. Por exemplo, originalmente os muçulmanos rezavam apenas três vezes por dia, mas depois adoptaram as actuais cinco orações diárias influenciados pelas cinco vigílias zoroastrianas.

No Cristianismo, as ideias relacionadas com os ensinamentos zoroastrianos prendem-se com o livre-arbítrio e a responsabilidade moral, a igualdade religiosa entre os homens e as mulheres, a Ressurreição física, o juízo final individual e universal, o Diabo, o céu e o inferno, a segunda aparição do Salvador, e o mundo perfeito no final dos tempos. Como se pode ver, as semelhanças entre o Zoroastrismo e o Cristianismo são grandes.

O Zoroastrismo é uma religião que teve a sua origem no Irão pré-islâmico e deve o seu nome a Zoroastro, a forma grega do nome do profeta Zaratustra. O Zoroastrismo é uma das fés monoteístas mais antigas e proféticas do mundo, e partilha alguma herança comum com a religião védica e o Hinduísmo. Através de uma interacção entre os persas e os gregos (através do império de Alexandre, O Grande), o Zoroastrismo passou a ser conhecido como a “religião dos Magos”: por exemplo, os três Reis Magos de quem nos fala o Novo Testamento eram sacerdotes zoroastrianos.

YazidisO Zoroastrismo terá sido desenvolvido pelo profeta e sacerdote Zaratustra que terá vivido no Centro-Sul da Ásia no final do II milénio a.C.. Nos seus hinos (os “Gathas”), Zaratustra defende ter tido uma visão, através da qual, Deus — que no Zoroastrismo tem o nome de “Ahura Mazda” que significa “Senhor da Sabedoria” — lhe terá revelado os novos ensinamentos. Durante mais de mil anos o Zoroastrismo foi a religião oficial de impérios poderosos, por exemplo, as dinastias Aqueménida (558-330 a.C) e Sassânida (224 – 651 d.C) que se estenderam do rio Indo ao Egipto e à costa e ilhas da Ásia menor (actual Turquia).

Actualmente apenas existem cerca de 150 mil zoroastrianos em todo o mundo, e grande parte deles são os Yazidis.

Os ensinamentos do Zoroastrismo baseiam-se no Avesta. As partes mais antigas e mais veneradas são compostas por 17 hinos (os “Gathas”). Tanto o Avesta como a tradição zoroastriana posterior referem-se aos Gathas como obra de Zaratustra. Ou seja, estes textos têm mais de 3.000 anos e são documentos autênticos atribuíveis ao fundador da religião. O Avesta foi transmitido sobretudo por tradição oral, e apenas os textos recitados durante os rituais zoroastrianos sobreviveram. Quando os zoroastrianos passaram a ser uma minoria (com a expansão do Islão), os sacerdotes zoroastrianos decidiram compilar esses textos de modo a salvá-los do esquecimento.

A doutrina do Zoroastrismo defende a ideia segundo a qual os “dois tipos de vida” — a espiritual e material — foram criados por Deus (Ahura Mazda) e que ambos são integralmente bons. Ou seja, para os zoroastrianos, o mundo material não é considerado uma realidade negativa, ao contrário do que os gnósticos da Antiguidade Tardia e algum Cristianismo defenderam. Sendo assim, o corpo humano, que encarna a criação material de Deus (Ahura Mazda), é considerado tão bom como a alma que pertence à criação espiritual; a vida física e corporal é vista como sendo positiva, tal como o mundo natural.

A principal divergência entre o Zoroastrismo e o Cristianismo será talvez o antagonismo entre o Bem e o Mal. Foi esta divergência que opôs Santo Agostinho ao profeta Mani: enquanto que , para o Cristianismo, o Mal é a ausência do Bem (influência do neoplatonismo), no Zoroastrismo o Mal é uma força impessoal exclusivamente espiritual. Ou seja, segundo o Zoroastrismo, o Mal não é entendido como uma entidade concreta, mas antes como uma força impessoal desligada de Deus e antagonista Dele e da Sua obra. Apesar de a criação de Deus (Ahura Mazda), isto é, a Realidade, ter uma existência espiritual e física, segundo o Zoroastrismo o Mal existe apenas no plano espiritual — por isso é que os ignaros contemporâneos dizem, erradamente, que “a religião dos Yazidis não considera o pecado”.

O Mal entendido como uma força espiritual impessoal tem um nome: Angra Mainyu, que significa “espírito do mal”, que é semelhante mas não idêntico ao conceito de “Diabo” no Cristianismo. Todo o mal existente no mundo físico, incluindo a morte física do ser humano (segundo o Zoroastrismo) provém dessa fonte externa impessoal (Angra Mainyu) que é desligada de Deus. Angra Mainyu será destruído no “fim dos tempos”.

A ética do Zoroastrismo e dos Yazidis é das mais extraordinárias de que eu já tive conhecimento — mas não cabe aqui e agora falar dela, porque o texto seria enorme. Apenas direi que, segundo o Zoroastrismo, as pessoas de ambos os sexos são boas ou más, não por natureza mas por escolha.

Ao contrário do Islamismo que é fundamentalmente determinista, o Zoroastrismo segue uma doutrina do livre-arbítrio que seria digna de S. Tomás de Aquino. O Zoroastrismo não faz qualquer distinção entre homens e mulheres como agentes morais — ao contrário do que acontece no Islamismo; e esta é uma das razões por que os islamitas perseguem os Yazidis: os últimos defendem a igualdade ontológica entre o homem e a mulher, ao passo que os primeiros consideram a mulher ontologicamente inferior.

1 comentário:

  1. Excelente escrito. Espero que os yazidis se safem desse loucos de turbante.

    Divulguei:

    http://www.historiamaximus.blogspot.pt/2014/08/qual-e-religiao-do-povo-yazidi-que-os.html

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