sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A prova ontológica (da existência de Deus) de Alvin Plantinga

 


O leitor poderá ler aqui a prova ontológica (da existência de Deus) de Alvin Plantinga.

Alvin Plantinga é um dos grandes filósofos do nosso tempo. Porém, a sua (dele) prova ontológica parte de dois pressupostos errados: o primeiro é o erro clássico da objectivação de Deus, ou seja, trata Deus como um objecto da realidade sujeito/objecto. Mas o segundo erro é mais grave: a prova ontológica é baseada na teoria do Multiverso.

“[24] Perhaps we can put this perspicuously in terms of possible worlds. You recall that an object may exist in some possible worlds and not others. There are possible worlds in which you and I do not exist; these worlds are impoverished, no doubt, but are not on that account impossible.

Furthermore, you recall that an object can have different properties in different worlds. In the actual world Paul I. Zwier is not a good tennis player; but surely there are worlds in which he wins the Wimbledon Open. Now if a person can have different properties in different worlds, the he can have different degrees of greatness in different worlds. In the actual world Raquel Welch has impressive assets; but there is a world RW which she is fifty pounds overweight and mousey. Indeed, there are worlds in which she does not so much as exist.”

Desde Norman R. Campbell (1880 – 1949) que sabemos que as teorias podem ser “mecânicas” ou “matemáticas”: enquanto uma teoria mecânica é explicitamente estabelecida e parece óbvia, já o mesmo não se passa com a teoria matemática.

Enquanto que, em uma nova teoria mecânica, é possível fazer uma analogia com uma outra e/ou várias outras teorias já verificadas (experimentalmente), em uma teoria matemática, as leis com as quais se estabelece a analogia são as mesmas leis deduzidas da teoria — porque a analogia tem uma forma matemática! —, e a teoria a partir da qual as leis experimentais são deduzidas é da mesma forma matemática que as próprias leis.

A teoria do Multiverso, em que se baseia Alvin Plantinga para formular a sua prova ontológica, é uma teoria matemática — o que significa que não é uma teoria mecânica.


Agora, repare bem o leitor (para que se evitem equívocos): pelo facto de a teoria do Multiverso ser uma teoria matemática, esse facto não a desclassifica automaticamente: pelo contrário, muitas teorias matemáticas estiveram na base da descoberta e desenvolvimento de teorias mecânicas. Portanto, não há aqui nenhum preconceito contra as teorias matemáticas.


Alvin PlantingaO problema da prova ontológica de Alvin Plantinga é o de que já existe uma teoria mecânica que explica o universo de uma forma mais razoável e mais simples; seguindo o princípio da “navalha de Ockham”, não devemos complicar o que é simples, e a teoria do Multiverso vem complicar o que parece ser mais simples. E essa teoria mecânica já existente é a teoria do Big Bang.

É impossível verificar e muito menos confirmar a ocorrência do fenómeno do Big Bang, porque, para o fazer, teríamos que meter o universo inteiro dentro de um laboratório. Mas o Big Bang não é apenas postulado, mas é também uma teoria elaborada por inferências; pelo menos duas inferências: a do efeito de Doppler constatado por Hubble, e a verificação da radiação de base (Penzias e Wilson, década de 1960).

O Big Bang é um conceito que decorre da observação empírica (passo a redundância) de dois fenómenos: o primeiro, a descoberta do movimento de expansão das galáxias realizada pelo telescópio Hubble; e o segundo, mediante a constatação empírica da existência da radiação isotrópica que sugere (logicamente e por inferência) uma espécie de “resíduo fóssil” proveniente de uma explosão inicial. Portanto, a teoria  mecânica do Big Bang é bastante sólida.

Quando Alvin Plantinga escolhe a teoria matemática do Multiverso para fundamentar a sua prova ontológica — e para além de não optar pela explicação mais simples que é a teoria mecânica do Big Bang —, ele entra em contradição, porque a teoria do Multiverso defende a ideia segundo a qual o universo é infinito, ou seja, que o universo (este e/ou outros) não teve um início nem terá um fim.

Ora, se o Multiverso é infinito (segundo a teoria matemática do Multiverso), não vejo onde haja um lugar para o Deus Criador do Universo que Plantinga pretende provar que existe.

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