quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O politicamente correcto e o fim do discurso

 

«No Plano Nacional para a Igualdade, o género feminino aparece entre parênteses. Inicialmente, na proposta de Plano Nacional, que começou por ser posta à discussão pública e que foi para consulta de vários especialistas na matéria, utilizavam-se expressões como “conselheiro/a…” — o que é um exemplo de “linguagem inclusiva”.

Já a versão final, publicada em Diário da República, contém expressões como “conselheiro(a)”. Qual a diferença? A barra deu origem a um parênteses. (…) O Guia dá vários exemplos do que está correcto: “pai e mãe” em vez de “pais”; “trabalhadores e trabalhadoras estrangeiras”, em vez de apenas “trabalhadores estrangeiros”. O emprego de barras também é uma possibilidade, para economizar espaço: “o/a doente”, “o/a requerente”, “A/O Presidente”, “Os/As Estudantes”, “a/o funcionária/o”, “o/a aposentado/a”.»Helena Matos

Sobre este tema, ler este verbete que escrevi em 2009; mas quero dizer mais alguma coisa, porque entretanto parece que as coisas “evoluíram”.

O “fim do discurso” acontece, por exemplo, quando eu conto uma anedota inócua sobre louras e ninguém se ri — uns (e umas!) por medo de sofrer qualquer tipo de sanção social (a “espiral do silêncio”), outros (e outras!) por acharem que as anedotas de louras não têm piada nenhuma porque alegadamente “discriminam as louras”.

A referência a qualquer estereótipo cultural ou a qualquer idiossincrasia pessoal ou grupal torna-se proibida. O humor torna-se impossível, porque qualquer caricatura passa a ser proibida pelo politicamente correcto. Hoje é cada vez mais difícil fazer humor, a não ser que se entre no palavreado escabroso do Bruno Nogueira — e a este tipo de humor já todo o politicamente correcto acha piada.

“Em todo o utopista dorme um sargento da polícia.” — Nicolás Gómez Dávila

Ou nos calamos, ou se dizemos qualquer coisa estamos sempre com o Credo na boca — não vá um qualquer utopista fazer de sargento da polícia. Mas a polícia torna-se cada vez mais arbitrária na censura que, por sua vez, depende cada vez mais dos critérios subjectivos de quem censura o discurso.

Estamos já em presença de uma espécie de Inquisição Moderna, com a agravante de não existir um Tribunal do Santo Ofício: não existe um critério de censura centralizado em um órgão político e cultural que defina os critérios censores, o que significa que a censura do discurso anda à solta e depende da subjectividade de cada um dos sargentos da polícia. Faz lembrar os comités de bairro e/ou dos sovietes revolucionários dos países comunistas: quaisquer critérios que definissem a revolução eram bons desde que condenassem o inimigo interno à fogueira.

O que está por detrás disto não é o problema da igualdade entre os sexos: é, antes, tratar de destruir a sociedade sem deixar impressões digitais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.