O João Távora escreve o seguinte:
“No meu entender o ditador [Salazar] veste como uma luva as expectativas de uma época que em certa medida hoje persistem: o provincianismo messiânico.”
O messianismo nunca foi coisa que tenha tido origem no provinciano, leia-se, no povo: teve sempre origem nas elites: por um efeito de Trickle-down, o messianismo estende-se depois à base da pirâmide social — mas desde o tempo dos profetas políticos do Antigo Testamento, o messianismo político foi sempre assunto de uma plêiade de auto-iluminados (por exemplo, também o messianismo gnóstico da Antiguidade Tardia ou o messianismo político das elites que surgiu na Europa com a Reforma protestante).
Aliás, há uma frase de Agostinho da Silva (que, quando comparado com o João Távora, é uma merda, obviamente!), que reza assim:
“Os portugueses sempre adoraram o concreto: entendem o abstracto, mas procuram traduzi-lo imediatamente em concreto.”
O messianismo político não se compadece com a preferência em relação ao concreto. O messianismo é abstracto por natureza, porque de certa forma recusa o empírico.
Uma das características do messianismo é uma certa falta de aderência ao concreto e à realidade. Em casos extremos, a neurose do messias político transforma-se em uma psicose aguda que induz uma interpretação delirante a partir de factos reais e verdadeiros (ver Eugène Minkowski e Joseph Gabel).
O termo “provincianismo messiânico” é contraditório em si mesmo, a não ser que o provincianismo político bacoco habite em Cascais, na vizinhança do João Távora.
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