sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os equívocos na classificação das ideias

 

“É certamente merecido o prémio de tradução científica e técnica para língua portuguesa atribuído pela FCT à tradução de Os Métodos da Ética, do filósofo utilitarista Henry Sidgwick, por Pedro Galvão.”

Métodos da Ética

Karl Popper andou toda a sua (dele) vida a dizer que nunca foi positivista (no sentido do neo-empirismo do Círculo de Viena), mas não adiantou nada: meia dúzia de académicos, incluindo Habermas, que nunca leram a sua (dele) obra, colaram-lhe o rótulo de “positivista” que nunca saiu. Acontece que Karl Popper de positivista não tinha nada: ele foi um neo-kantiano (neo-criticismo), tal como por exemplo Eric Voegelin.

De modo semelhante, Henry Sidgwick não foi um “utilitarista” no sentido estrito, e muito menos um “utilitarista clássico” como se diz no verbete supracitado — por uma simples razão: por princípio, alguém que critica o utilitarismo não pode ser verdadeiramente utilitarista; como alguém que critica o neo-empirismo não pode ser neo-positivista.

Ou melhor dizendo: Henry Sidgwick parte do utilitarismo (que estava na moda na Inglaterra do século XIX) para o colocar em causa; por exemplo, Henry Sidgwick opõe-se ao empirismo do utilitarismo clássico de Bentham. Esta crítica ao utilitarismo foi mais tarde seguida e desenvolvida pelo seu discípulo e aluno G E Moore.

Há epítetos que colam e que dão muito jeito: o epíteto de “positivista”, dado a Karl Popper pelos hegelianos, tinha uma conotação negativa — sabendo nós que Hegel foi, de certo modo, um positivista (“o que é real é racional”). O epíteto de “utilitarista”, aposto a Henry Sidgwick, serviu para salvar o utilitarismo, recuperando para as suas fileiras o seu principal crítico do século XIX.

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