quinta-feira, 12 de março de 2015

Os monismos orientais e ocidentais


A filosofia taoísta — que está subjacente ao Taoísmo, que é uma religião, convém não esquecer — é perigosa porque a sua interpretação ocidental (talvez errada) não distingue a realidade macroscópica, por um lado, da realidade quântica ou microscópica, por outro  lado.

O idealismo alemão baseou-se nitidamente no Taoísmo e no Budismo (desde Schopenhauer, Lessing, Schelling, Hegel, até ao romântico Nietzsche, sendo que este último também se inspirou no Hinduísmo), com os resultados que se conhecem: Hegel esteve na base da imanência do materialismo dialéctico marxista, e quer queiramos ou não, o nazismo foi um idealismo com forte influência de Nietzsche.

A ideia taoísta segundo a qual “só existe uma realidade” (o Uno) que se confunde nas nossas representações do mundo, nega a própria Realidade que é intrinsecamente múltipla. Aliás, não é possível definir a “Realidade”. A ideia de que só existe uma realidade é, em si mesma, uma negação da realidade macroscópica (objectiva) em que vive o ser humano; e esta negação está na base filosófica do niilismo moderno ocidental que se desmultiplicou em várias correntes ideológicas.

Convém dizer que existem pontos comuns entre os monismos orientais (Taoísmo, Budismo, Confucionismo) e o platonismo.

A “alegoria da caverna”, na última parte da “República” de Platão, tem alguma coisa em comum com a alegoria do sonho de Zhuang Zhou. A diferença é a de que Platão faz a distinção entre a “realidade macroscópica” e a “realidade das ideias” (o mundo microscópico ou quântico), marcando bem a diástase das duas realidades através do conceito de “reminiscência”: a “reminiscência” separa claramente as duas realidades — ao passo que os monismos orientais tendem a criar uma amálgama da realidade, misturando o mundo das ideias (o mundo do sonho, de Zhuang Zhou), por um lado, com o mundo da realidade macroscópica objectiva engendrado pela entropia da força da gravidade e que tem na sua base a axiomática dos primeiros princípios, por outro  lado.

Esta negação da distinção entre realidades, ou a tentativa de amálgama de realidades, é um niilismo.

Se considerarmos verdadeira a asserção segundo a qual, “na realidade microscópica (quântica), o princípio da não-contradição é anulado mediante o conceito de função de onda quântica”  —  que é onda (não-matéria), mas também pode ser partícula (matéria) — , e por isso também fica anulado o princípio lógico do terceiro-excluído; se esta asserção (em itálico) for verdadeira, isso não significa que a lógica (macroscópica) perca a sua validade: apenas significa que os fundamentos quânticos da lógica que impera na realidade macroscópica contêm em si os princípios contraditórios da Realidade. Mas esses princípios contraditórios são imanentes (tanto na quântica, quanto nos monismos orientais ou idealistas) e não têm em conta real e objectiva a transcendência, que é de facto atemporal.

Os monismos, sejam quais forem, incluindo o monismo da teoria quântica, são imanentes e não anulam o conceito de “tempo”: apenas relativizam esse conceito — como também o faz a teoria da relatividade de Einstein. Basta que a “função de onda quântica” seja definida como “uma possibilidade de um acontecimento”, para que a noção de “tempo” não possa ser anulável. A “viagem” de um fotão pelo universo é, ela própria, parte da construção do tempo, e por isso não é possível refutar o tempo — como tentou Jorge Luís Borges — sem anular toda a realidade, seja esta micro- ou macroscópica.

Só é possível anular (progressivamente) o tempo na transcendência (que pode ser gradual, assim como a existência da matéria é gradual na onda quântica) em relação às realidades micro e macro.

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