sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Heidegger e o grau zero da filosofia

 

"Qualquer pessoa pode seguir os caminhos da reflexão à sua maneira e dentro dos seus limites. Por quê? Porque o homem é o ser (Wesen) que pensa, ou seja, que medita (sinnende). Não precisamos, portanto, de modo algum, de nos elevarmos às ‘regiões superiores’ quando reflectimos. Basta demorarmo-nos (verweilen) junto do que está perto e meditarmos sobre o que está mais próximo: aquilo que diz respeito a cada um de nós, aqui e agora; neste pedaço de terra natal, agora, na presente hora universal."

Martin Heidegger

Este texto de Heidegger cria uma dicotomia entre aquilo que “está perto” ou “mais próximo”, por um lado, e por outro lado aquilo que pertence às “regiões superiores” (a religião, ou a metafísica). Embora seja uma tentativa de negação da metafísica, o texto é metafísico — embora se trate de uma metafísica negativa.

A dicotomia é falsa; o facto de meditarmos sobre aquilo que “está perto” ou “mais próximo”, não implica a necessidade de não meditarmos também sobre aquilo que pertence às “regiões superiores”. Para além de falsa, a dicotomia reduz a Realidade inteira ao mundo sub-lunar limitado pelos satélites artificiais — o que é característica do gnosticismo moderno (visão anti-cósmica).

Ademais, o conceito de “regiões superiores” sugere a ideia de “regiões longínquas”, em contraponto à ideia de “regiões mais próximas”.

Ou seja, Heidegger nega o conceito de Metaxia: o encontro da consciência humana com a transcendência (as “regiões superiores”) não ocorre na história dos acontecimentos mundanos, mas antes ocorre no processo interno da experiência da consciência humana. A Metaxia é o lugar onde o ser humano participa, com o divino, na realidade da consciência. E não há nada “mais próximo” do ser humano que a sua própria consciência.

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