domingo, 10 de janeiro de 2016

Construir um “mundo melhor”

 

“Antes havia pessoas que queriam construir um mundo melhor. Nasceu a NATO, a ONU, a CEE e até a União Europeia. Havia um projecto, uma ideia, para o Mundo”.

¿Estão os portugueses mais inteligentes?

Afirmar que a criação da NATO, da CEE ou da União Europeia tiveram como objectivo a “construção de um mundo melhor” é a mesma coisa que dizer que a criação da Liga Hanseática ou o Tratado de Windsor tiveram como objectivo a “construção de um mundo melhor”.

Eu aceito a hipótese de ter uma grave deficiência cognitiva, porque até hoje ainda não consegui compreender o que é a “construção de um mundo melhor”.

Penso que se parte da premissa segundo a qual “o mundo é mau”, e por isso “é preciso melhorar esse mundo mau”.

Esse “mundo melhor” é um mundo colectivo: não se parte do princípio de que o indivíduo, enquanto tal, possa melhorar, mas antes que o colectivo — a humanidade — possa ser melhor.

O conceito de “construção de um mundo melhor” é um conceito colectivista, em que a “humanidade”, entendida como pessoa colectiva, elimina o mal do mundo. Neste sentido, o conceito de humanidade deixa de ser abstracto e/ou universal, e a humanidade é simbolicamente o antídoto de Deus que é o demiurgo que criou o mal do mundo.

Através da deificação do colectivo humano (o colectivo humano transformado em uma espécie de deus imanente), será possível a construção de um mundo melhor — é esta a ilação que eu retiro da ideia de “construção de um mundo melhor”. Esta ideia assusta. Parte-se do princípio de que o inconsciente colectivo (termo de Jung) é passível de “melhorar”, sendo que “melhorar” significa “eliminar o mal do mundo”.

Surpreende-me que o articulista do semanário 'O Diabo' utilize o conceito de “construção de um mundo melhor” em um mesmo artigo em que se questiona sobre se os portugueses estarão hoje mais inteligentes. Obviamente que a resposta é “não”.

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