terça-feira, 5 de abril de 2016

José Adelino Maltez e a tradição

 

Podemos ver neste texto do José Adelino Maltez — a propósito: ele acabou de me bloquear no Facebook, o que, para mim, é uma honra — uma contradição:

“Logo, teoricamente, o Ocidente aceitou o cristianismo, mas, na prática, o Ocidente permaneceu pagão (id. 377). E o resultado foi um hibridismo: o que no catolicismo tem um carácter realmente tradicional é bem pouco cristão e o que nele é cristão é bem pouco tradicional (id. 379)”. [José Adelino Maltez parafraseando Julius Evola].

Adiante, o Maltez escreve:

A tradição nada tem a ver com esse sucedâneo do mito pagão do eterno retorno, entendido como um simples círculo fechado, totalmente contrário ao conceito de tempo linear, assumido pelo libertacionismo judaico-cristão. Porque contra os sucessivos milenarismos do fim da história, há que proclamar, como Santo Agostinho, que não é o mundo que acaba, é um novo mundo que começa”.

Desde logo, é falso que o “libertacionismo judaico-cristão” fosse contrário ao conceito de tempo linear. Temos aqui que distinguir entre o Judaísmo de antes do Êxodo, e o posterior. Exactamente o que marca o Judaísmo do pós Êxodo é marcação do tempo linear. E Jesus Cristo — também através do autêntico S. Paulo — interrompeu os ciclos míticos do paganismo anterior ao Cristianismo [egípcio, mesopotâmico, órfico, dionisíaco, etc.], ao fazer com que o Messias nascesse de uma virgem, morresse e ressuscitasse, de uma vez por todas (tempo linear).

Aliás, o Milenarismo cristão é definitivo (marcado pelo tempo linear; não admite retorno), e não cíclico: a escatologia milenarista cristã acaba com a presente realidade que se transmuta em uma outra, transcendente (“o novo mundo que começa” é transcendente e não imanente, segundo Santo Agostinho).

Se “o que é tradicional é pouco cristão” [como escreve o José Adelino Maltez parafraseando Evola, e, portanto, assume-se que concorda com este], e se o que “é cristão é bem pouco tradicional — então segue-se, por exclusão, que o que é tradicional é marcadamente pagão (aliás, na linha de pensamento de Evola]. Mas se a tradição “nada tem a ver com esse sucedâneo do mito pagão do eterno retorno”, ficamos sem saber em que se escora a tradição.

Não vou discutir agora a forma quase poética como o tema é apresentado pelo José Adelino Maltez.

(ficheiro PDF do texto do JAM)

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