terça-feira, 5 de abril de 2016

O tiro do Maltez

 

O Henrique Raposo, no seu ensaio “Alentejo Prometido” (pág. 57), descreve assim o “maltês”:

“Herdeiros dos velhos guerrilheiros, os famosos malteses andavam em bando, roubavam ricos e pobres e, quando não roubavam, ameaçavam deitar fogo a casas e colheitas”.

O maltês não era como o Zé do Telhado, aqui do norte, que roubava aos ricos para dar aos pobres; o maltês roubava indiscriminadamente ricos e pobres, e quando não roubava, ameaçava com a escatologia apocalíptica. O maltês — ou “maltez”, conforme o português anterior à reforma ortográfica de 1945 — era um sociopata libertário que impunha a sua própria lei.

os malteses

O Maltez publicou um “post” dirigido expressamente à minha pessoa. Diz ele que eu publiquei, na “casa dele”, um comentário “equivocamente anti-semita” (repare-se no “equivocamente”). Ora, basta ao leitor fazer uma pesquisa neste blogue sobre as palavras “judeu” e/ou “Israel”, para chegar à conclusão de que eu sou (equivocamente) “sionista”. Ora, há aqui um problema lógico: é o de que eu não posso ser simultaneamente anti-semita e sionista.

jm-antisemita

Poderá argumentar-se que o Maltez não conhecia a minha opinião acerca dos judeus; e, vai daí, equivocamente jogou pelo seguro — não vá o comentário ser equivocamente anti-semita. Ou seja, como bom maltês, disparou primeiro, em caso de dúvida; não vá o equívoco fazer lei que não a dele. E depois vem a ameaça escatológica e apocalíptica do bloqueamento: quando não impõe a sua lei, o Maltez ameaça deitar fogo a tudo.

O José Adelino Maltez é um professorzeco de ciência política, ou seja, é um especialista em uma determinada área. E quando a cumbersa descamba para fora do seu estrito âmbito de conhecimento, a terra treme-lhe debaixo dos pés — o que, convenhamos, não é agradável para ninguém: o ser humano moderno é homem do neolítico actualizado: quando treme a terra, comporta-se exactamente como um caçador recolector da Idade da Pedra.

O que não é normal, no Maltez, é a ideia de que o “liberalismo” (que ele diz perfilhar) seja uma espécie de pensamento único: quem não concorda com ele é “fascista”, “salazarista”, “anti-semita”, e outras coisas terminadas em “ista”. No Maltez não há in dubio pro reo: ele fuzila logo, quando os argumentos não coincidem com os seus (dele); e quando não fuzila, marca o alvo na mira, à espera de uma oportunidade para atirar sobre o mensageiro quando a mensagem não lhe agrada.

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