Chamem-lhe o que quiserem; por exemplo, “homem de ciência” fica-lhe bem; mas nunca “príncipe da Renascença” — a não ser que a Maria João Avillez não tenha estudado a esmagadora maioria das ideias renascentistas, ou que reduza o Renascimento a um punhado de criaturas.
Se o João Lobo Antunes fosse um “príncipe da Renascença”, eu não teria reduzido a escombros a sua (dele) tese ambígua acerca da eutanásia.
Se ele fosse um “príncipe da Renascença”, nunca teria afirmado na rádio (eu ouvi) que “a única espiritualidade que existe é a que provém da música, e das artes em geral”, ou seja, negando qualquer essência espiritual para além da matéria (seja o que for que “matéria” possa significar).
¿Querem exemplos de “príncipes da Renascença” portugueses modernos? Agostinho da Silva, Fernando Pessoa, Leonardo Coimbra, Egas Moniz.
A ideia implícita (da Maria João Avillez) de que “a ciência nasceu com a Renascença” é absurda: o que se passou foi que antes do Renascimento, a pergunta intelectual era: “¿O quê?”; e durante o Renascimento passou a ser: “¿Como?”. O que mudou foi a forma de perguntar: foram os gregos esfarrapados que inventaram a ciência sem que a Maria João Avillez se desse conta disso.
E o verdadeiro “príncipe da Renascença” foi (e é) aquele que conseguiu conciliar as duas formas de perguntar — coisa que João Lobo Antunes não fez. Paz à sua alma.
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