sábado, 25 de março de 2017

Ó Pedro Arroja: o protestantismo não é utilitarismo

 

“É claro que o ministro Dijsselbloem tocou no ponto fulcral. O que faz a diferença entre os países do norte da Europa e os países do sul, entre os países de cultura predominantemente protestante e os países de cultura predominantemente católica (ou ortodoxa, como a Grécia), são as mulheres”.

Pedro Arroja


Não tem nada a ver. Quando Lutero e Calvino cindiram o Cristianismo, o norte protestante era muito mais puritano (do ponto de vista formal) do que o sul católico. Conforme escrevi aqui:

prostit-imNo século XV, e nas cidades da Europa, o bordel contribuía para a manutenção da paz social, e neste sentido, era uma “instituição católica”.

Em meados do século XVI, o papado, para responder às críticas protestantes [de Lutero], sentiu-se forçado a emitir uma defesa deste tipo: “o bordel contribui para a manutenção da paz social”, para justificar a existência dos “banhos públicos” em Roma.

Ou seja, ao contrário do que dizem, a moral católica não reprimia (politicamente) a prostituição [na Idade Média]; e a atitude tolerante de Salazar em relação à prostituição reflecte essa tradição católica medieval — que depois foi parcialmente contrariada pela Contra-Reforma que, no fundo, imitou a Reforma.

A repressão [política] da prostituição iniciou-se com a Reforma protestante; e, de certo modo, essa “repressão sexual” foi imitada pela Contra-Reforma católica através da influência dos jesuítas na Igreja Católica.

Em geral — e não só em relação às prostitutas —, antes da Reforma, as relações sexuais aconteciam frequentemente antes da actual “idade adulta” [21 anos]. A Igreja Católica medieval instituiu a figura cultural do padrinho de baptismo, que impedia que um homem mais velho pudesse ter relações sexuais com uma jovem afilhada com quem tinha um “relacionamento espiritual”; e era vulgar [na Idade Média] que uma menina pudesse ter vários padrinhos de baptismo: só depois da Reforma e da Contra-Reforma, o padrinho de baptismo passou a ser um só, e a sua figura foi desvalorizada pelo protestantismo.

Em consequência da repressão da prostituição, a partir do século XVII, (e da repressão sexual em geral), os casamentos passaram a realizar-se mais tarde na vida das pessoas, por um lado, e por outro lado, a idade dos nubentes passou a ser semelhante.

O que se passa na Holanda actual é outra coisa, e pouco ou nada já tem a ver com Lutero ou Calvino: o laxismo moral na Holanda (e em quase todos os outros países europeus), é o utilitarismo entendido como religião política a que se convencionou chamar de “secularismo”. E por isso é que os maomedanos vão tomando o poder político.

 

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