segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

¿Julgamos uma coisa boa porque a desejamos (Espinoza) ? — ¿Ou porque não temos (ainda) consciência (desconhecemos, ainda) de outras coisas melhores ? (S. Tomás de Aquino)

 

¿Julgamos uma coisa boa porque a desejamos (Espinosa) ? — ¿ou porque não temos (ainda) consciência (desconhecemos, ainda) da existência de outras coisas melhores ? (S. Tomás de Aquino)

“Há também muitos casos em que agimos contra o nosso melhor julgamento e que não podemos descrever isso como sucumbindo à tentação. Nos relatos usuais de incontinência existem, começa agora a aparecer, dois temas bem diferentes que se entrelaçam e tendem a confundir-se. Um é que o desejo nos distrai do bem ou força o mal; a outra é que a acção incontinente sempre favorece a paixão egoísta suplantando o chamamento do dever e da moralidade”.

Este trecho é de Dostoievski e foi repescado neste verbete da professora Helena Serrão.

Acontece que Dostoievski foi um literato, e não propriamente um filósofo (tal como Nietzsche). O literato não se preocupa muito com a lógica — por isso é que as mulheres cabem melhor na poesia do que na filosofia.

Neste trecho, vemos como Dostoievski inverteu os termos do nexo causal: é a paixão egoísta (endógena) que está na causa da acção incontinente, e não o contrário disto. Neste sentido estrito, o desejo é própria a paixão egoísta.

Os “estados contraditórios” derivados do desejo, a que se refere Dostoievski no texto, são as dissonâncias cognitivas e as ambivalências que nos afligem enquanto seres humanos, por um lado, e por outro lado, as ambiguidades que desafiam a nossa coerência lógica.

A posição de Dostoievski (utilizando / parafraseando Austin) parece aproximar-se mais de Espinosa (um ateísmo camuflado e sofisticado) do que de Platão (realismo).

Espinosa criou uma falsa dicotomia  entre o desejo  e o valor, fazendo com que o objecto do desejo seja (alegadamente, segundo ele) uma fabricação humana (Espinosa faz lembrar aqueles “Prometeus” cientificistas modernos que dizem que “o ser humano inventou os números primos” e/ou que “a lógica evolui”).

Existem valores que o ser humano ainda não descobriu (realismo de Platão, Nicolau Hartmann, Louis Lavelle).

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.