1/ Do ponto de vista da ortodoxia católica, Kierkegaard é um herético, assim como o fideísmo é incompatível, por exemplo, com as ideias de S. Tomás de Aquino, ou mesmo com as de Santo Anselmo de Aosta.
2/ Ao contrário do que se passa com a filosofia: antes que se colocasse a religião cristã ao serviço do homem (como defende aqui a professora Helena Serrão), foi preciso que alguém se pusesse ao serviço de Deus.
A religião não é conclusão de um raciocínio, nem exigência da Ética, nem estado de sensibilidade, nem instinto, nem produto social: a religião não têm raízes no Homem — ao contrário do que se passa com a filosofia.
3/ A professora Helena Serrão escreve:
“A busca do sentido [da vida] é precisamente a tentativa de resolver o conflito que não é resolúvel em termos intelectuais, pelo contrário, intelectualmente não há uma síntese, intelectualmente só há antítese. Trata-se de acreditar sem que intelectualmente haja provas ou evidências sensíveis.”
Temos que saber o que significa “prova”, ou “evidências sensíveis” que parece serem sinónimos.
Em matemática, a “prova” é reduzida à sua expressão mais simples já que consiste em deduzir um resultado a partir de regras propostas e explicitadas (por exemplo, a “prova dos nove”).
Em filosofia, e na medida em que o discurso filosófico está assente no princípio da não-contradição, a “prova por redução ao absurdo” – que consiste em demonstrar que nos contradizemos – conserva alguma eficácia.
De facto, não há prova em filosofia se nos recusarmos a ser convencidos: só há demonstrações sob a forma de discursos parciais cuja coerência nos pode remeter, segundo os casos: 1/ para uma autoridade exterior; 2/ para um sistema de referência crítica que reduz a filosofia à sua própria epistemologia; 3/ para a ambição “admissível” ou “inadmissível” de um discurso uno e total.
Segundo Karl Popper, não é possível compreender totalmente uma teoria formulada, porque é impossível conhecer todas as suas conclusões lógicas — ou seja, é impossível excluir o surgimento de contradições internas dentro de uma teoria.
A verdade científica não pode ser provada com certeza nem através da experiência e nem através da intuição intelectual, porque na ciência não existe nenhum indicador infalível para a verdade.
O teórico das ciências alemão, Wolfgang Stegmüller, defendeu mesmo que a noção de “verdade” não pertence à ciência, mas antes pertence à teologia.
Em bom rigor, não pode ser encontrado uma “prova” concludente para uma “evidência” tão simples como a existência de um mundo exterior a nós próprios. Kant chamou a isto “o escândalo da razão”.
A moderna teoria da ciência formula, com Karl Popper, uma versão mais moderada do “escândalo da razão” de Kant: segundo Karl Popper, “o mundo exterior [a nós próprios] é uma hipótese de trabalho para a ciência da natureza”.
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