A professora Helena Serrão transcreve aqui um trecho de um texto de um tal Alexander George, que eu não conhecia mas fui investigar. Transcrevo aqui um textículo:
“A proposição de que Wittgenstein era judeu é verdadeira se Wittgestein era judeu e falsa se Wittgenstein não era judeu. A proposição de que Frege era católico é verdadeira se Frege era católico e falsa se Frege não era católico. Alguns filósofos, ditos “deflacionistas”, defendem que nisto se esgota tudo o que há a dizer sobre a verdade. São os filósofos que consideram que a verdade não é uma propriedade muito interessante. Eu não estou de acordo, embora todos possamos concordar que, mesmo que o acabámos de afirmar não seja tudo o que há a dizer da verdade, é pelo menos parte do que há a dizer sobre a verdade.”
O senhor George transforma a Verdade em opinião sobre a sua (da Verdade) existência. Ou seja, segundo ele, há os “filósofos deflacionistas” que defendem que a Verdade não é coisa interessante; mas a opinião dele (do senhor George) não coincide com a opinião dos “filósofos deflacionistas”.
Não podemos confundir “cepticismo” e “dúvida”. A dúvida sobre a certeza é racional, e portanto, saudável. O cepticismo é a certeza da dúvida, e é portanto, um fideísmo negativo.
Quando se pergunta: “a verdade existe?”, quem faz a pergunta admite, à partida, a possibilidade de uma resposta ― porque caso contrário a pergunta seria absurda ― e portanto já pressente, ou sabe intuitivamente, que a verdade existe.
O que a pessoa que pergunta, não sabe, é quais são as respostas correctas e erradas à pergunta, o que significa que o facto de a verdade existir é independente do critério seguro que distinga entre a verdade e a falsidade.
Quem pergunta, sabe que a verdade existe; o que não sabe é se aquilo que dizem ser a Verdade, é de facto a Verdade.
Por outro lado, se alguém afirma categoricamente que “não existe qualquer verdade”, pretende afirmar uma verdade, acabando, por isso, por se contradizer ― porque se alguém afirma algo, está convencido que a sua afirmação está correcta e que todos devem corroborar essa afirmação.
Por conseguinte, essa pessoa pressupõe que existem afirmações que possuem uma validade incondicional, ou sejam, verdades incondicionais. Isto significa que quem afirma que “não existe qualquer verdade” pressupõe ― mesmo que essa afirmação possa estar errada ― que a verdade e o erro se excluem mutuamente, e em consequência, existe entre a verdade e o erro uma diferença que não pode ser relativizada.
Por outras palavras: quando alguém diz que “tudo é relativo porque não existe qualquer verdade”, cai em auto-contradição e no absurdo.
Resulta do conflito entre o conceito da “verdade que sabemos que existe” (e por isso perguntamos) e o critério de apuramento da verdade, a contradição entre duas proposições: “nós sabemos que a verdade existe” e “nós não sabemos se a verdade existe”, sendo que estas proposições antagónicas são assumidas simultaneamente. Como as duas afirmações não podem ser válidas ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, começa aqui o problema. E razão primeira deste problema é que a razão humana é contraditória em si mesma.
O que se pode dizer sobre a verdade formal (forma da verdade), é que “a verdade absoluta só pode ser pessoal” (Nicolau Hartmann), mas ao mesmo tempo, para que essa verdade absoluta seja verdadeira, tem que ser universal ― quando não tem validade só para mim; a minha verdade absoluta tem que ter algo em comum com todos os seres humanos porque possui a qualidade da verdade, independente de mim. E isto é tudo o que a razão pode dizer sobre a forma, e nada sobre o conteúdo da verdade. O resto pertence à religião.
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