Um dos fenómenos que mais temo, vindo da Esquerda, é a burocratização do espírito.
Por exemplo, a ideia de “transformar o mundo” (Karl Marx), que é um cliché progressista e revolucionário, significa, de facto, burocratizar o ser humano. Todo o cliché ideológico burocratiza o espírito humano. Não tenho dúvidas que este cliché (“transformar o mundo”) poderia ter sido utilizado pelo nazi Eichmann. O marxismo cultural (ou politicamente correcto) é a burocratização do espírito no nosso tempo.
Esta “burocratização do espírito” nega ou mitiga o valor da Criatividade; e está bem patente, por exemplo, neste artigo do Ludwig Krippahl. O burocrata esquerdista (passo a redundância) coloca no mesmo plano da análise de valor, a Técnica, por um lado, e a Criatividade (que inclui a arte e a ciência), por outro lado.
A Natureza, para não perecer às mãos da Técnica, “refugia-se” na imaginação de alguns homens; e essa imaginação está na génese da Criatividade — o que significa que a Técnica, por um lado, e a Criatividade, por outro lado, estão em pólos opostos da existência humana; e esta tensão bipolar existencial faz parte do fenómeno da Metaxia humana (segundo Platão).
Porém, esse “refúgio da Natureza na imaginação de alguns homens” aconteceu até ao século XIX; o que surgiu, nos séculos seguintes até à actualidade, foi o impacto da Técnica sobre a imaginação dos imbecis.
E desta imbecilidade humana saiu a ideia de que a Técnica e a Criatividade são equivalentes. Hoje abundam os que se crêem “inovadores” porque imitam os que inovaram no passado, e vem deste equívoco imbecilizante a ideia de que Técnica e a Criatividade têm um valor semelhante.
Vivendo num mundo que a Ciência torna mais abstracto cada dia que passa, no meio da Técnica que submete o ser humano a comportamentos cada vez mais abstractos, no meio de uma sobre-população humana que lhe impõe relações cada vez mais abstractas — o Homem actual tenta escapar a essa abstracção que lhe esconde o mundo e que lhe apergaminha a alma, optando por sonhar com o futuro — este grande abstracto entre os Abstractos. E desse sonho do futuro nasce a distopia do progressismo da Esquerda.
É certo que a originalidade não é algo que se procure, mas é algo que se encontra; mas também é verdade que poucos a encontram.
“Encontrar” a originalidade criativa é apanágio de muito poucos. Por isso, a originalidade criativa deve ser recompensada de forma objectiva e concreta, sem abstracções ideológicas que tolhem a alma do ser humano e lhe burocratizam o espírito.