quarta-feira, 8 de abril de 2015

O papa e a teoria modernista dos chapéus


O caro leitor José Lima escreveu o seguinte comentário a este verbete:

O sítio para que o Orlando liga é um sítio sedevacantista com todos os graves defeitos decorrentes dessa qualidade. Muito sucintamente, os sedevacantistas confundem a infalibilidade papal (que existe apenas nas exactas condições em que o Concílio Vaticano I a definiu) com uma pretensa inerrância papal, caindo assim num culto idolátrico da pessoa do Papa que nada tem de católico. Para eles, o Papa não se pode enganar jamais em qualquer pronunciamento que faça (independentemente desse pronunciamento reunir ou não os requisitos da infalibilidade papal tal como a definiu o mesmo Concílio Vaticano I) e portanto se isso sucede, como sucede com Francisco, essa pessoa não é, não pode ser o Papa, estando por isso vazia (“sede vacante”) a cadeira de Pedro.

Porém, a verdade é que fora das condições em que se verifica a infalibilidade - pronunciamento solene e formal, em matéria de fé ou moral, com a intenção de proferir um juízo definitivo a que todos os fiéis devem assentimento -, fora deste magistério extraordinário assistido pelo Espírito Santo, o Papa pode mesmo equivocar-se e até cair em heresia: pode equivocar-se no seu magistério ordinário e não infalível; pode equivocar-se quando se pronuncia como mero doutor privado (condição em que caem as famosas entrevistas de Francisco).

Outrossim, existem diversos casos históricos de Papas que caíram em heresia, sem contudo jamais terem comprometido a sua infalibilidade. Não diria que Alexandre VI fosse herético, mas antes escandaloso - um Papa não tem necessariamente de ser um modelo de santidade e piedade (embora devesse), podendo cometer muitos e graves pecados mortais -, mas em heresia caíram antes Papas como Libério (ariano), Honório (monofisita) ou João XXII (negou o julgamento particular imediato “post mortem” da alma), e com a heresia (modernista) têm tergiversado os Papas pós-Concílio Vaticano II, muito em especial, Francisco.

Obviamente que em caso de Papas heréticos - como no de qualquer outro dignitário eclesiástico herético - cessa automaticamente o dever que os fiéis têm de lhes obedecer. O Orlando cita, e bem, o ensinamento de São Roberto Belarmino; poder-se-ia, ao caso, acrescentar o que ensina sobre a obediência lícita e a recusa da obediência ilícita o próprio São Tomás de Aquino - https://www.fisheaters.com/summa22104.html


Há aqui três aspectos que convém sublinhar:

1/ é preciso perceber em que contexto histórico foi declarado o dogma da infalibilidade papal. Mais: antes de finais do século XIX, nunca houve, na Igreja Católica, um qualquer consenso sobre a infalibilidade do papa. A prova disto é a opinião de São Roberto Belarmino que foi citada1.

2/ o sedevacantismo não é um mal em si mesmo: o que pode ser má é a interpretação que se faz para se defender o sedevacantismo. Ademais, e como muito bem expôs São Roberto Belarmino1, o sedevacantismo pode ser alegórico ou simbólico, e não uma exigência real e física de que o papa se apeie da cátedra de S. Pedro.

3/ neste momento existe um Papa Emérito, e portanto qualquer ideia sedevacantista é absurda. Mesmo que consideremos que o "papa Francisco" não é um papa legítimo, temos Bento XVI ainda vivo. Um papa não deixa de o ser porque uma centena de pessoas dizem que ele já não é.

O segundo aspecto que o comentário aborda é o do discurso ex-cátedra do papa.

Uns dizem (um pouco à vontade do freguês) que “ontem o papa falou ex-cátedra, mas hoje não” — conforme convém e em função do tipo de discurso do papa. Se o papa disser, por exemplo, que “o aborto é legítimo”, então sempre se pode alegar que “o papa não falou ex-cátedra”. É um argumento cómodo, ambivalente e ambíguo, à imagem deste papa.

Portanto, vamos, de uma vez por todas, assentar no seguinte:

Um Papa fala, sempre e em qualquer circunstância, ex-cátedra. Tudo o que o papa disser na opinião pública e publicada, é sempre ex-cátedra. Quando um papa dá uma entrevista a um jornal, fala ex-cátedra; quando ele discursa em uma homilia durante a missa, fala ex-cátedra. E quando ele redige e publica uma encíclica, escreve ex-cátedra; e mesmo nas suas conversas privadas com chefes-de-estado, fala ex-cátedra.

A ideia segundo a qual “o papa uma vezes fala ex-cátedra e outras vezes não”, é um modernismo.

chapeusOs modernistas dizem que “o homem moderno tem vários chapéus”: tem, por exemplo, o chapéu do pai de família, tem o chapéu do dono da empresa, tem o chapéu do sócio do clube de vela, tem o chapéu de deputado, tem o chapéu de marido, tem o chapéu de membro da maçonaria, tem o chapéu de sacristão católico (que, alegadamente “não é incompatível com associação maçónica porque os chapéus são diferentes”), etc..

Portanto, segundo a teoria modernista e esquizofrénica dos chapéus, um dos chapéus é o Jorge Bergoglio; outro chapéu é do cardeal Bergoglio; outro chapéu é do papa enquanto pessoa; outro chapéu é do papa enquanto argentino; outro chapéu é do papa enquanto sul-americano; outro chapéu é o de jesuíta; outro chapéu é o do papa que não fala ex-cátedra; e outro chapéu é o do papa que fala ex-cátedra. E provavelmente ainda existem outros chapéus do "papa Francisco" que ainda desconheço.

Um Papa deve falar sempre de forma solene e formal, mesmo quando sorri e brinca um pouco. Temos o exemplo de João Paulo II — não é preciso inventar o que já está inventado. Isso não significa que um Papa não erre: significa apenas que, quando erra, o Papa deve retractar-se, seja directamente, seja por interposta pessoa. Quando um Papa erra falando ex-cátedra (porque não há outra forma de o Papa falar senão ex-cátedra), deve rectificar o seu erro falando ex-cátedra.

O terceiro aspecto é o argumento segundo o qual o mau comportamento de um papa, como por exemplo o papa Bórgia, não o torna herético. A heresia, segundo este argumento, é reduzido ao desvio da doutrina, ou seja, ao desvio da teoria separada da prática. A prática de vida do papa não interessa nada.

Este argumento também é modernista e advém da Nova Teologia e do Concílio do Vaticano II. Quando São Roberto Belarmino escreveu sobre o direito de desobedecer ao papa1, não se referiu apenas à heresia da doutrina: referiu-se também ao comportamento — aos actos, às obras — do papa. Para a Nova Teologia e para o protestantismo que foi aceite pelo Concílio do Vaticano II, as obras contam menos do que a putativa fé — mesmo que saibamos que a fé é subjectiva e, por isso, não se pode quantificar objectivamente.


Nota
1. “Tanto quanto está autorizado a resistir a um Papa que comete uma agressão física, do mesmo modo que é permitido
resistir-lhe se faz mal às almas ou perturba a sociedade e, com mais forte razão, se procurasse destruir a Igreja — é permitido, digo, opor-se a ele não cumprindo as suas ordens e impedindo que a sua vontade seja realizada.

Não é lícito, contudo, julgá-lo em tribunal, impor-lhe punição, nem o depor, pois estes são actos próprios a um superior”.

São Roberto Belarmino, De Romano Pontifice, Livro II, Capítulo 29.

14 comentários:

  1. Esta é uma questão muito sensível para mim. Eu [acho que] compreendo o que o Orlando Braga diz, mas não deixa de me fazer muita confusão. Um dogma é uma Verdade, como tal não passa a "existir" quando é definido. E a sua origem não invalida (nem valida) a sua veracidade, evitar cair na falácia genética. O Espirito Santo "permitiria" (como não permitiu outras heresias anteriores) que se aceitasse como dogma algo que não fosse verdade antes? a pergunta é rectoria claro, não sabemos a resposta, mas o que é que pensa disto? Muito provavelmente eu não alcancei o que tentou explicar nestes verbetes.

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    1. Há que distinguir o dogmas da fé — por exemplo, a Trindade, ou a divindade de Jesus Cristo —, por um lado, de dogmas mundanos da Igreja terrena, por outro lado.

      Imaginemos, por absurdo que seja, que se realiza o Concílio do Vaticano III. E desse Concílio surge um novo dogma: o Papa passa a ser considerado superior a Deus e a Jesus Cristo. Neste caso, não se trataria de um dogma de fé, mas antes de um dogma mundano. E o Gilberto passaria a considerar que o Papa é superior a Deus.

      Portanto, a origem do dogma é importante e tem que ser estudada e analisada — porque, de contrário, pessoas como o Gilberto acabariam por seguir cegamente o novo dogma e acreditando que o Papa é superior a Jesus Cristo!

      O que é espantoso é que eu explico a origem política do dogma da infalibilidade do papa, e o Gilberto faz de conta de que não existiram factos históricos que determinaram esse dogma!. Isso é que é preocupante: fazer de conta que a realidade não existe. Ignorar a realidade não faz de uma pessoa mais religiosa...

      Pai, Filho e Espírito Santo. São realidades transcendentes. Mas Deus não nos criou como animais: deu-nos o livre-arbítrio — a liberdade de escolha e de acção. De nada vale o Espírito Santo se o ser humano não exerce, em plenitude, o livre-arbítrio que Deus lhe concedeu. O próprio Jesus Cristo não fez outra coisa senão pregar a Boa Nova e AGIR no mundo.

      ¿Será que você defende que Jesus Cristo deveria ficar quieto, sem fazer nada, a rezar na montanha toda a sua vida, à espera da acção do Espírito Santo no mundo? Se você pensa assim, vai contra o exemplo de Jesus Cristo, e por isso você não pode ser cristão.



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    2. “O Espírito Santo "permitiria" (como não permitiu outras heresias anteriores) que se aceitasse como dogma algo que não fosse verdade antes?”

      Você está mal informado. A maior parte das heresias foram, em um primeiro momento, aceites ou pelo menos não refutadas pela Igreja Católica — e só mais tarde, depois de vários sínodos e concílios, é que foram refutados pela Igreja Católica.

      Veja, por exemplo, o caso das heresias do francês Pedro Abelardo: só no fim da vida dele é que as suas teses heréticas foram condenadas pela Igreja Católica. A condenação precisa de um período de reflexão e de maturação: o Espírito Santo não actua sempre “na hora”.

      A maior parte das teses heréticas não foram condenadas “na hora”.

      Se esse algo fosse verdade antes, ¿por que razão o dogma apenas surgiu depois? Será que você pensa que uma verdade primordial do Cristianismo precisa do dogma para ser confirmada? Por outro lado, basta estudar a História — e não falar por falar — para saber que o conceito de “infalibilidade do Papa” NUNCA existiu até ao século XIX. O papa sempre foi visto como o sucessor de Pedro, e nunca como um ser humano infalível.

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  2. O Gilberto já mais passaria a considerar o papa superior a Deus, claro. Perceba uma coisa, a pergunta foi sincera, não tenciono confronta-lo de forma provocatória de maneira nenhuma. É só que eu ando nisto há muito pouco tempo. Até há um ano e meio atras eu nem acreditava verdadeiramente em Deus (tinha aquela concepção absurda de que Deus é uma energia). É verdade que muitas heresias passaram pela Igreja e estas heresias foram discutidas no ceio da Igreja até se alcançar a verdade. Quando eu limitei a definição do dogma não era em oposição ao livre arbítrio. É só que o dogma fecha a questão. Eu parti do principio que o Espirito Santo orienta esta discussão mas esta é feita de forma livre. Era desta forma que Este (Espirito Santo) não "permitiria". Mas compreendo o que disse e agradeço o seu tempo.

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    1. “O Gilberto já mais passaria a considerar o papa superior a Deus, claro.”

      Há muitos Gilbertos; não é só você. E ninguém me garante que todos os Gilbertos pensarão da mesma forma acerca do papa e de Deus. É claro que utilizei o nome Gilberto como figura de retórica, como poderia ter utilizado outro nome qualquer.

      Eu vou responder com outro verbete.

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  3. Caro Orlando, não pretendendo polemizar, não só por absoluta falta de tempo da minha parte para tal mas também por genericamente concordar com o que aqui costuma escrever, ainda assim permita-me, agora da minha parte, fazer as seguintes pequenas observações:
    1º) O Papa não se pronuncia sempre “ex cathedra” ou no âmbito do seu magistério extraordinário. Fá-lo apenas e tão-só quando, no uso solene da sua autoridade suprema de pastor de toda a Igreja, em matéria de fé ou moral, invocando a assistência do Espírito Santo, define uma verdade a que todos os fiéis católicos devem assentimento - http://www.montfort.org.br/old/documentos/vaticano1.html#s4cap4
    Desde que o dogma da infalibilidade papal foi fixado pelo Concílio Vaticano I, apenas um Papa recorreu a este magistério extraordinário: Pio XII, quando definiu a Assunção de Nossa Senhora ao Céu - http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html - Sem prejuízo, não poucos teólogos entendem que João Paulo II utilizou também este mesmo magistério quando afastou a título definitivo a possibilidade de a Igreja conferir a ordenação sacerdotal a mulheres - http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1994/documents/hf_jp-ii_apl_19940522_ordinatio-sacerdotalis.html
    2º) Fora deste âmbito excepcional, o magistério do Papa tem sempre natureza ordinária. E neste último o Papa pode errar se porventura ensina algo contrário à tradição católica, isto é, algo contrário ao que a Igreja sempre ensinou em todas as épocas e lugares; portanto, um Papa que ensinasse a legitimidade do aborto estaria fora do recto caminho pelas seguintes razões:
    a) por esse ensinamento ser contra a lei divina;
    b) por esse ensinamento ser contra a lei moral;
    c) por esse ensinamento ser contra a tradição da Igreja;
    d) por a função do Papa não ser ensinar novidades, mas antes receber, defender e transmitir o conjunto das verdades de fé e moral de que a Igreja é fiel depositária, e, neste âmbito, porventura explicitá-las e clarificá-las através do seu magistério infalível, mas jamais negá-las ou contradizê-las;
    3º) O herege é todo aquele que com pertinácia nega uma verdade de fé ou moral; não foi esse o caso do Papa Alexandre VI. Este, como disse anteriormente, e isso não é nada pouco tratando-se de um Papa, pode ter tido um comportamento gravemente escandaloso e como tal pode ter sido um pecador público, mas não foi um herege; apesar do seu comportamento notório, nem por isso alguma vez tentou modificar em seu proveito a fé ou a moral da Igreja. Chame-se a isto hipocrisia, se se quiser; heresia, não.

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    1. 1/

      O problema não é falta de tempo: o problema é que esta discussão não leva a nada; é uma discussão infrutífera porque o conceito de infalibilidade papal está ferido de morte, como se pode ver no link que você deu ( http://goo.gl/I9PQvE ).

      Segundo o link que você deu, S. Roberto Belarmino está automaticamente excomungado a posteriori porque colocou claramente em causa o dogma da infalibilidade do papa. Por outro lado, se você ler o texto ( http://goo.gl/I9PQvE ) com atenção, pretende-se justificar a infalibilidade do papa através de factos históricos que nunca implicaram explicitamente qualquer infalibilidade papal.

      2/

      Parece que você confunde o dogma da infalibilidade papal, por um lado, com o discurso ex-cátedra do papa, por outro lado. O discurso ex-cátedra do papa sempre existiu, ao passo que a infalibilidade do papa só passou a existir em finais do século XIX. São duas coisas que não são misturáveis. Não vale confundir a “estrada da Beira” com a “beira da estrada”.

      Ademais, parece que você não consegue entender a mentalidade do homem medieval — a Idade Média vai desde a queda do império romano do ocidente até à queda do império romano do oriente, mas prolonga-se realmente até meados do século XVII, porque o Renascimento mais não foi do que um período de decadência da Idade Média — ler, por exemplo, o que Bertrand Russell (entre muitos outros) escreveu acerca do Renascimento.

      O homem medieval não tinha vários chapéus. ¿Entendeu isto? Ele nascia servo e morria servo; nascia nobre e morria nobre. Nascia artesão e morria artesão. A ascensão social só era possível através do ingresso no clero católico, e não era para todos. O ser humano medieval só tinha uma dimensão, que coincidia totalmente com a sua identidade social. Não vou discutir se isto era bom ou mau. Mas se você não entende a mentalidade medieval, estamos todos de facto a perder tempo.

      Neste sentido, dizer que “um papa da Idade Média falava ex-cátedra em umas circunstâncias e não em outras”, é um completo absurdo! Só quem não tem a mínima noção da mentalidade medieval pode afirmar isso. O papa medieval tinha instrumentos canónicos (Direito Canónico) de afirmação das suas posições ex-cátedra, por exemplo, através das bulas papais, ou através das encíclicas — o que é outra coisa! Um instrumento legal de imposição ex-cátedra do papa não se confunde com o estatuto permanente ex-cátedra do papa na Idade Média.

      Não há nenhum teólogo católico honesto que possa refutar o que escrevi acima. O que ele pode dizer é que o modernismo influenciou também a Igreja Católica e o papa passou também a ter vários chapéus; mas isso é também o que eu escrevi no verbete.

      Segundo o seu raciocínio, o presidente da república em exercício, umas vezes fala ao povo como presidente da república, e outras vezes fala ao povo como o Aníbal Cavaco Silva. ¿Isto faz sentido?! A diferença é que o presidente da república não é considerado infalível.

      O seu argumento só serve para desculpabilizar qualquer erro do papa: você sempre pode dizer que “ele não falou ex-cátedra”.

      3/

      No seu ponto 2, você contradiz-se porque admite que o papa pode errar, em contraponto ao link ( http://goo.gl/I9PQvE ) segundo o qual existe uma infalibilidade papal.

      ¿Você já reparou por que razão esta conversa não leva a nada?

      Você pretende fazer a quadratura do círculo: reconhece que o papa diz asneiras mas pretende arranjar forma de o desculpar. E portanto serve-se dos vários chapéus do papa para dizer que umas vezes ele fala na condição de papa, e outras vezes é o “Please call me Jorge”.

      4/

      “Ex cathedra” — em português, ex-cátedra — vem do latim e significa o seguinte: “aquilo que vem da cadeira do mestre” — “cathedra” significa “cadeira”, “assento”, e “ex” significa “de”.

      “Falar ex-cátedra” ( ou “Ex cathedra”, sem hífen ) é “falar de cadeira”. Se você retirar a cátedra ao mestre, ele deixa de ser mestre. Portanto, não é possível que um mestre fale senão ex-cátedra. Se você retirar a cátedra ao papa, ele deixa de ser papa.

      Portanto, deixemo-nos de sofismas e vamos ler a História.

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  4. Replico e, com a salvaguarda do devido respeito, não me parece que seja eu que não saiba História, mas o Orlando que parece desconhecer a diferença que a doutrina católica estabelece entre o magistério extraordinário e o magistério ordinário do Papa: a) o primeiro é sempre infalível e, portanto, irreformável e insusceptível de oposição - por exemplo, o Papa Pio XII definiu que Nossa Senhora ascendeu ao Céu em corpo e alma e nenhum fiel pode doravante sustentar doutrina contrária; b) o segundo presume-se infalível se conforme à tradição da Igreja, isto é, insisto, se em concordância com o que a Igreja sempre ensinou; caso contrário, perde essa presunção e portanto, nesse caso, é susceptível de resistência por parte dos fiéis, sendo neste âmbito concreto que recai a doutrina de São Roberto Belarmino de resistência à autoridade papal (e antes de São Roberto Belarmino, de São Tomás de Aquino, e antes de São Tomás de Aquino, de Santo Atanásio, e antes de Santo Atanásio, de São Paulo).

    De uma vez por todas, perceba-se que o magistério extraordinário do Papa tem um âmbito de aplicação muitíssimo restrito e que no seu magistério ordinário, ainda que goze de presunção de infalibilidade na condição supra referida de conformidade à tradição da Igreja, o Papa não é inerrante, algo bem diferente de ser infalível. E isto é a doutrina católica tradicional e não uma chapelaria qualquer…

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    1. O que você disse no seu último comentário e nas duas alíneas, é o seguinte:

      a) o papa é sempre infalível;

      b) o papa não é sempre infalível.


      Portanto, fiquei esclarecido. Obrigado.

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    2. A ler:

      http://algolminima.blogspot.pt/2015/04/a-infalibilidade-do-papa-e-o-principio.html

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  5. Efectivamente, o Papa é sempre infalível no âmbito do magistério extraordinário; no âmbito do magistério ordinário, o papa presume-se infalível, mas essa presunção pode ser ilidida em caso de ensinamento contrário à tradição da Igreja.

    Não invento nada. Passo a citar do actual Catecismo da Igreja Católica:
    890. A missão do Magistério está ligada ao carácter definitivo da Aliança instaurada por Deus em Cristo com o seu povo. Deve protegê-lo dos desvios e falhas, e garantir-lhe a possibilidade objectiva de professar, sem erro, a fé autêntica. O múnus pastoral do Magistério está, assim, ordenado a velar por que o povo de Deus permaneça na verdade que liberta. Para cumprir este serviço. Cristo dotou os pastores do carisma da infalibilidade em matéria de fé e de costumes. O exercício de tal carisma pode revestir-se de diversas modalidades:
    891. «Desta infalibilidade goza o pontífice romano, chefe do colégio episcopal, por força do seu ofício, quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis, e encarregado de confirmar na fé os seus irmãos, proclama, por um acto definitivo, um ponto de doutrina respeitante à fé ou aos costumes [...]. A infalibilidade prometida à Igreja reside também no corpo dos bispos, quando exerce o seu Magistério supremo em união com o sucessor de Pedro», sobretudo num concílio ecuménico (425) Quando, pelo seu Magistério supremo, a Igreja propõe alguma coisa «para crer como sendo revelada por Deus» (426) como doutrina de Cristo, «deve-se aderir na obediência da fé a tais definições» (427). Esta infalibilidade abarca tudo quanto abarca o depósito da Revelação divina
    892. A assistência divina é também dispensada aos sucessores dos Apóstolos, quando ensinam em comunhão com o sucessor de Pedro, e de modo particular ao bispo de Roma, pastor de toda a Igreja, quando, mesmo sem chegarem a uma definição infalível e sem se pronunciar de «modo definitivo», no exercício do seu Magistério ordinário, propõem uma doutrina que leva a uma melhor inteligência da Revelação em matéria de fé e de costumes. A este ensinamento ordinário devem os fiéis «prestar o assentimento religioso do seu espírito» (429), o qual, embora distinto do assentimento da fé, é, no entanto, seu prolongamento.

    Sobre a sua nova artigo supra, comentarei mais tarde.

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    1. ¿Se existir uma qualquer nova alteração do catecismo, habilmente fundamentada em qualquer tradição, você aceitará automaticamente como boa?

      Meu caro: o Cristianismo é a religião da Palavra! Se você procura a religião do Livro, deveria abraçar o Islamismo.

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  6. Não cito este catecismo por se tratar do actual Catecismo da Igreja Católica, que, de resto, a meu ver, tem várias debilidades (prefiro o Catecismo do Concílio de Trento ou o de São Pio X); porém, na passagem que citei do primeiro - e por isso é que o fiz -, nada há que não haja sido sempre crido pela Igreja - ao menos, implicitamente -, e nada há que não tenha suporte tanto na Revelação escrita (Sagradas Escrituras) como na Revelação oral (Tradição).

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    1. Por falar em Concílio de Trento: se você analisar bem toda a história da Contra-Reforma, verificará que dela não saiu qualquer novo dogma; e, no entanto, tratou-se de uma fase muito crítica da Igreja Católica, com o norte da Europa a esfacelar a Igreja.

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