quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A confusão entre “partidos políticos” e a “Revolução Francesa”

 

Guilherme Koehler escreveu o seguinte aqui:

“Os partidos doutrinários e radicais saídos da Revolução Francesa apenas tiveram um programa: demolir toda a estrutura do edifício que com sublimes e seculares esforços levantaram as gerações católicas e monárquicas sobre um solo amassado com o seu sangue.

A cada empreendimento histórico opuseram uma catástrofe, a cada glória uma ignomínia, a cada direito uma licença, a cada virtude cívica uma corrupção e, por fim, à comunidade de crenças, de sentimentos, de instituições fundamentais, de tradições, de recordações e de aspirações comuns que constituíam o espírito nacional, aplicaram um só princípio: negar esse espírito; e uma só liberdade: a de romper essas unidades e de dissolver a Pátria.

Eliminar os partidos parlamentares não é cercear o ser da Pátria, é aliviá-la de um peso que a oprime, é libertar um cativo, é fazer renascer uma Nação desfalecida e humilhada.

Também o Parlamento não serve para governar, não serve para legislar, não serve para evitar desperdícios e é impotente para evitar revoluções. Então não serve para nada e quando uma instituição não tem qualquer utilidade, suprimi-la é responder sensatamente às questões mais rudimentares do senso comum.”

Retirado de "Vázquez de Mella e a educação nacional"

Edmund Burke foi contra a revolução francesa e contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos que saiu da Revolução Francesa, mas no seu (dele) tempo já existiam em Inglaterra dois partidos políticos: os Tories e os Whigs; e o próprio Burke foi deputado ao parlamento britânico pelos Whigs que defendiam uma monarquia constitucional contra o Absolutismo real.

Portanto, o problema de Burke em relação à Revolução Francesa não tinha a ver necessariamente com a formação ou com a existência de partidos, mas antes com o tipo de cultura política que estava por detrás — ou subjacente — dessa formação dos partidos. Ou seja, a formação dos partidos é um epifenómeno, e não a causa do problema que era — segundo Burke e eu penso que com razão — a consequência política do Iluminismo como visão antropocêntrica e prometaica do ser humano. Dizer, como diz Guilherme Koehler, que os partidos políticos, considerados em si mesmos, são a causa do problema, é tomar o efeito pela causa.

Ademais, na Idade Média portuguesa, os Três Estados (a nobreza, o clero e o povo) funcionavam nas Cortes em uma espécie de dinâmica política-partidária. A posição de Vázquez de Mella seria equivalente à de alguém que, na Idade Média, defendesse a supressão das Cortes.

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