quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Segundo o Brasil, o Acordo Ortográfico é a “adequação idiomática” entre Brasil e o mundo lusófono

 

“Com efeito, poder-se-ia inclusive pôr em pauta o Novo Acordo Ortográfico, de modo a alinhar as desavenças linguísticas a emperrar o processo de adequação idiomática entre Brasil e Portugal.”

Nos Estados Unidos — e salvo em áreas problemáticas das grandes cidades onde o crime juvenil campeia — qualquer cidadão já leu pelo menos uma obra de Shakespeare. Por isso, os Estados Unidos são a prova de que o que se passa no Brasil em relação à língua portuguesa não é um fenómeno normal. O autor do texto supracitado escreve o seguinte:

“Em conclusão, poder-se-ia aventar a construção de um Leitor que se formasse a partir de um processo de inclusão intelectual, sedimentado por conhecimento ao menos dos clássicos da literatura em prosa de ficção, como Alexandre Herculano, José de Alencar, Eça de Queirós, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Isto para que, quando me perguntassem a respeito da catástrofe das provas de redacção, eu respondesse: diz o que lês que te direi quem és.”

Isto quer dizer que não há nem houve, no Brasil, uma política de bibliotecas abertas ao público (equivalente ao Plano Nacional de Leitura que existe há décadas em Portugal). E, depois, as elites brasileiras (a chamada “ruling class”) vêm dizer que a solução do problema do analfabetismo está na simplificação da língua. E, mais grave, pretende exportar o seu método de analfabetização endémica para todos os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa).

Ou seja: não facilitam a leitura ao povo, e depois dizem que a culpa é da língua, para logo a seguir utilizarem o argumento dos “200 milhões” para imporem a lógica interna do analfabetismo funcional em todo o mundo lusófono. Isto faz lembrar o bêbado que entra no urinol público, abre a braguilha das calças, coloca um testículo de fora, faz força, urina dentro das calças, e depois desata a berrar que “tenho os colhões rotos!”.

Mas o que mais me preocupa no texto é aquela parte da “adequação idiomática”.

A “adequação” já não é só ortográfica: também já é “idiomática”. Portugal produziu, e produz ainda, uma literatura prolixa porque tem uma “adequação idiomática” diferente da que existe no Brasil. A “adequação idiomática” é a idiossincrasia linguística nacional que produz literatura e leitores da língua. E, pelo que se vê pela experiência, a “adequação idiomática” que o Brasil quer impôr à Lusofonia tem produzido analfabetos funcionais. Por isso, essa “adequação idiomática” não interessa ao povo português, e parece que também não interessa ao povo angolano. E se o Brasil quiser continuar com a sua “adequação idiomática”, é livre de o fazer sem chatear outrem.

(Via)

1 comentário:

  1. Caro Orlando,

    É precisamente esse analfabetismo funcional que está na origem desta barbárie que eu ainda ontem abordei aqui:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2014/01/sera-que-civilizacao-ja-chegou-ao-brasil.html

    O problema não é só a pobreza e a ignorância, é também a cultura e a esquerda recusa-se a reconhecer isso e ainda insiste na promoção da cultura da violência e do "é fixe pertencer a um gangue". A direita brasileira por sua vez, está apática e ignora o problema cobardemente, com a excepção do Olavo de Carvalho e meia-dúzia de outros pensadores brasileiros.

    Cumtps,
    João José Horta Nobre

    P.S. - Continue com o bom trabalho!

    Contacto: historiamaximus@hotmail.com

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