sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eduardo Lourenço e o vampirismo

 

Eduardo Lourenço dispensa apresentações. Quer se goste dele ou não, é o maior filósofo português vivo. Contudo, é sabido que ele se identifica politicamente com a esquerda Fabiana do Partido Socialista, e só por isso é que eu concordo com esta sua (dele) posição embora por razões ou causas diferentes:

«O ensaísta Eduardo Lourenço disse hoje que houve uma invasão por “uma espécie de vampiros”, que são quem controla o sistema inventado pela modernidade, vivendo-se agora um “apocalipse indirecto” em “estado de guerra permanente”.»

Concordo com ele, mas também reconheço o facto de os compagnons de route socialistas de Eduardo Lourenço não estarem isentos de responsabilidade no estado vampirino a que chegamos. Ou seja, o que me separa de Eduardo Lourenço não são as conclusões a que ele chegou, mas antes a interpretação das causas. Podemos estar de acordo acerca de um estado de coisas sem estar de acordo acerca da interpretação do nexo causal que o produziu.

De facto, Portugal está em um estado de guerra:

«“Não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver esperando que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta espécie de atoleiro em que estamos mergulhados”, acrescentou.»

o Kapo webComo dizia Agostinho da Silva, “do português podemos esperar tudo”. Este “esperar tudo” significa “oportunidade”. Havendo uma oportunidade, o português “vira a mesa”. Por isso, também eu “não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça”.

Reparem bem o que está a acontecer na Ucrânia: nada nos garante que não possa existir, no futuro, um movimento alargado de “guerra” contra a “vampirismo” que se aproveitou do facto de nos termos postos “a jeito” de sermos sugados. “Pusemo-nos a jeito”, por exemplo, quando o socialista Vítor Constâncio, na sua qualidade de governador do Banco de Portugal, dizia que estar no Euro transformava o nosso país em uma espécie de Alabama ou outro estado federal dos Estados Unidos. Os resultados estão à vista.

Naturalmente que o aparecimento da “oportunidade de virar a mesa” passa pelas elites políticas portuguesas que funcionam hoje mediante uma lógica do Kapo de um campo de concentração nazi.

Nenhum dos partidos políticos existentes serve, porque todos eles defendem a existência de uma espécie de Kapo, embora de cores ideológicas diferentes. Contra o Kapo orwelliano Passos Coelho, surge a Nomenklatura Kapista do novo Gulag da esquerda orwelliana. O sistema está em curto-circuito; é um sistema circular. “Ou comes sopa de favas, ou comes sopa de grelos”. Só podes escolher qual o tipo de sopa que podes comer, mas não podes comer outra coisa senão sopa. Encontramos em um sistema de double blind, em que, sentados na pia, não sabemos “se devemos cagar ou dar corda ao relógio”.

Ora, é este double blind que deve ser desfeito, e é nesse “desfazer do double blind” que consiste a “oportunidade”. E o “desfazer do double blind” não é possível com a actual partidocracia.

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