domingo, 9 de fevereiro de 2014

Santa Josefina Bakhita

 

santa josefina 3Ontem, 8 de Fevereiro, a Igreja Católica celebrou a memória da Santa Josefina Bakhita. Santa Josefina Bakhita nasceu no Dafur em 1869 — essa região africana tristemente célebre pelo recente genocídio silencioso — e faleceu a 8 de Fevereiro de 1947 em Schio, Vicenza, Itália. O seu corpo mantém-se incorruptível, sepultado sob o altar da igreja do convento canossiano de Schio. Santa Josefina Bakhita foi canonizada pelo Papa João Paulo II em Outubro de 2000.

Confesso que não sabia grande coisa acerca dela até ontem, e passei algum tempo a investigar a vida dela; e que fiquei surpreendido e até emocionado com a história desta “santa morena”. A Igreja Católica tem o condão de emocionar o coração mais empedernido com a realidade de vida dos seus santos, mas esta Santa Josefina é um caso que desafia a metafísica.

Antes de mais, leiam a história da vida de Santa Josefina Bakhita. Em rodapé podem ver várias ligações diferentes para outros tantos sítios com informações acerca desta santa singular da Igreja Católica.

Talvez o único aspecto da doutrina da Igreja Católica em relação à qual tenho dúvidas é a ideia segundo a qual “a alma é criada de raiz no momento da concepção” (a alma não existia antes da concepção do corpo); no fundo, trata-se da versão católica do conceito estóico de “tábua-rasa”.

S. Paulo contraria esta ideia da Igreja Católica através de 1 COR 15, 45 – 49:

“O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo vem do céu. Tal como era o terrestre, assim são também os terrestres; tal como era o celeste, assim são também os celestes.”

santa josefina 1O que S. Paulo quer dizer é o seguinte: a alma humana pode (pelo menos em alguns casos) existir antes do nascimento do ser humano. A alma ou espírito humanos podem anteceder a sua encarnação no corpo. E só assim se explica a vida dos santos da Igreja Católica, e por maioria de razão, a vida de Santa Josefina Bakhita.

Mesmo o “homem terrestre”, em relação ao qual S. Paulo diz que é “tirado à terra”, tem uma missão qualquer perante Deus. É, pelo menos, uma “missão privada”, por assim dizer, assumida pelo indivíduo em relação a Deus. E depois temos “os homens que vêm do céu”, e cuja missão assumida perante Deus não é apenas do âmbito privado, mas antes assume uma dimensão da comunidade ou mesmo da humanidade.

Os santos não querem ser santos. A última coisa que lhes passa pela cabeça é serem santos. O facto de serem santos decorre apenas do nosso reconhecimento da sua (deles) santidade. A santidade dos santos é intrínseca, endógena ao seu espírito; a santidade faz parte da natureza dos santos ou daqueles que “vêm do céu”.


santa josefina 2Para além da facticidade existencial, ou seja, daquilo que nos parece ser “pura contingência”, há sempre a possibilidade de que a contingência seja (pelo menos em uma parte dos fenómenos) apenas aparente, e que haja — em alguns aspectos aparentemente contingentes da vida de um ser humano (e principalmente nos santos) — uma “necessidade” divina que, em muitos casos, controla determinados acontecimentos que nos parecem ser contingentes porque não temos uma explicação para eles. Ou seja, em muitos casos de algumas vidas, o destino da pessoa é literalmente “guiado” ao mesmo tempo que lhe é garantido a priori o seu livre-arbítrio. Trata-se de uma “liberdade guiada”, como um pai “guia” a liberdade de um filho, em que a facticidade é transcendida por um desiderato divino específico em relação a uma determinada pessoa.

O problema é que nós, humanos, não conseguimos saber quando a contingência é apenas aparente, ou seja: não temos a capacidade de saber se uma determinada possibilidade de um acontecimento já verificado, foi um efeito apenas de variáveis humanas e/ou da decorrência normal de variáveis quânticas no decurso da progressão do espaço-tempo, ou, se a sequência de eventos sofreu uma (parcial) influência exógena (divina) ao ser humano e à dimensão do espaço-tempo que, de certo modo, “moldou” um curso de uma vida em uma determinada direcção.

Não está aqui em causa a liberdade do indivíduo. O que está em causa é a assunção total da contingência e da facticidade. Pelo menos em alguns casos, a contingência é “manipulada”, por assim dizer; o curso dos acontecimentos é influenciado (por Deus) em uma determinada direcção, deixando-se contudo ao indivíduo que escolha livremente o sentido.


4 comentários:

  1. Wow!
    Este teu parecer cheira-me a Origenismo e a Jansenismo ao mesmo tempo .!

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  2. Esses seus comentários têm que ser fundamentados racionalmente.

    ¿Você sabe o que é o Jansenismo? E sabe o que defendeu Orígenes? Ou você explica o seu comentário, ou seria melhor estar calado!

    Portanto, explique por que razão ou razões você escreveu esse seu comentário.

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  3. Calma !
    Origenismo --- http://es.wikipedia.org/wiki/Origenismo
    Jansenismo -- A graça eficaz ... (Deus predestina a uns a salvação e outros o inferno....)

    Origen é uma referencia (boa) para um católico, porem escreveu umas merdas esquesitas ...daí a origen do Origenismo. (e até dizem que se fez eunuco ... acredito que por maledicência )

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    1. Onde é que você vê uma defesa do determinismo ontológico neste verbete? Você pode ver aquilo que não está escrito, mas contra isso nada há a fazer.

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