sexta-feira, 18 de abril de 2014

A deturpação simbólica do ritual do Lava-pés por parte do cardeal Bergoglio

 

Não sou teólogo — longe disso!, e nunca quis ser, nem me passou pela cabeça sê-lo —, mas vou aqui falar do ritual do Lava-pés da Quinta-feira Santa que o cardeal Bergoglio quebrou.

Em primeiro lugar, não há — como dizem por aí os “progressistas” — no Novo Testamento dois eventos de Lava-pés: a Unção de Betânia, na casa de Simão (Marcos 14, 3) não se tratou de um Lava-pés, porque a mulher derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus”.

Em segundo lugar, só há uma descrição, no Novo Testamento, do ritual do Lava-pés: em S. João, 13. Se nós lermos bem — com olhos de ver, e não com olhos cegos pelo modernismo — este trecho do Evangelho de S. João, verificamos que o Lava-pés de Jesus Cristo é um ritual de iniciação inter-pares:

“Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.”

lava-pes-jesusO ritual do Lava-pés tem um simbolismo e um significado muito específico que não se podem generalizar sem que se perca muito do seu conteúdo simbólico. Na actualidade, a ideia compulsiva de “igualdade” exige que tudo o que tenha um significado restrito se torne geral, e sem que se tente compreender esse significado restrito — e este papa está a dar um péssimo exemplo de seguidismo em relação ao igualitarismo que cilindra a necessidade das diferenças para que possamos discernir a virtude.

É certo que nos conventos de freiras, desde a Idade Média até hoje, sempre houve rituais de Lava-pés entre elas.

Mas o princípio e o simbolismo era e é idêntico ao praticado por Jesus Cristo: trata-se de um ritual praticado entre iniciados (neste caso, de iniciadas) e exclusivamente inter-pares. Jesus Cristo não entendeu — a julgar pelo trecho de S. João (leiam-no!) — este ritual como um ritual aberto a toda a gente, a gentios e a pagãos: é um ritual especifico a que eu, por exemplo, não tenho direito. E não é por que eu não tenha (reconhecidamente) direito a esse ritual (entendido no contexto católico) que não deixo de lhe dar valor — hoje vivemos em um tempo em que quando se não tem direito a uma coisa, ou essa coisa é desvalorizada e repudiada, ou então reivindica-se o acesso generalizado ao direito a essa coisa.

O ritual do Lava-pés é um ritual entre discípulos e o Mestre (ou entre discípulas e a Mestre). Por exemplo, é um ritual a ser praticado entre um Bispo e seminaristas. Não me escandalizaria nada que fosse praticado por um Papa em um grupo de 12 seminaristas (homens) e noviças (mulheres). O que me repugna é que o cardeal Bergoglio desvirtue o simbolismo do ritual do Lava-pés — o que ele está a fazer é destruir o simbolismo — quando inclui nele, por exemplo, pagãos e muçulmanos. O uso que o cardeal Bergoglio faz do ritual do Lava-pés é inapropriado e inadequado, desvirtua o simbolismo original intendido por Jesus Cristo — o cardeal Bergoglio está a distorcer o simbolismo original do Cristianismo e da Igreja Católica.

Portanto, o meu “problema” em relação ao cardeal Bergoglio e ao seu (dele) ritual do Lava-pés não é o de uma misoginia primária, nem é de um exclusivismo cristão em relação às outras religiões.

Não é um problema de misoginia porque, como referi acima, seria normal que o papa Bergoglio lavasse os pés a mulheres desde que estas fossem noviças ou freiras (estaria assim cumprido o simbolismo originário). E não é um exclusivismo em relação às outras religiões, porque todas as religiões têm os seus rituais próprios, e seria por isso absurdo acusarem a Igreja Católica de ser exclusivista quando todas as religiões são exclusivistas — e mesmo aquelas religiões que se dizem “não-exclusivistas”, são exclusivistas no sentido em que se afirmam “não-exclusivistas”; o não-exclusivismo é uma forma de exclusivismo.

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