domingo, 18 de maio de 2014

O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada não terá lido o Alcorão

 

A julgar por este artigo assinado pelo Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, ele não leu o Alcorão; a isso não é obrigado, sendo um sacerdote católico; também não se pode obrigar um mufti muçulmano a ler o Novo Testamento.

Eu li o Alcorão, de fio a pavio.

Quando lemos um texto qualquer, e por maioria de razão um texto religioso, tentamos sempre intuir a filosofia que está “por detrás” das ideias transmitidas pelas palavras escritas (exegese). Por exemplo, no Antigo Testamento, e a despeito de algumas críticas acerca de uma putativa apologia à violência em algumas das suas partes, existe uma lei moral estrita e rigorosa que tende a ser explicada racionalmente; ou seja, no Antigo Testamento, a lei moral não é arbitrária e não depende de um capricho e de um acto gratuito de Deus — mas antes baseia-se na Lei Natural que depende da vontade racional de Deus (por exemplo, os 10 mandamentos são a expressão da Lei Natural).

No Alcorão, a lei — seja a moral ou outra qualquer — é uma espécie de um capricho de um deus iracundo.

Considerar o Islamismo uma religião é a mesma coisa que considerar o canibalismo como uma expressão religiosa que é, de facto! Conforme muito bem explicou Mircea Eliade, o canibalismo é uma expressão religiosa que invoca o mito da criação através do assassínio primordial (por exemplo, o mito de Marduk e Tiamat, que era comum, sob diferentes formas, em quase toda a antiguidade). Embora o mito pudesse ser considerado venerando, a forma canibalesca de o celebrar não é, convenhamos, a mais adequada.

Quando os laicistas (leia-se, ateus) invocam o Islamismo para criticar as religiões em geral, e o Cristianismo em particular, incorrem no “sofisma canibalesco”: não é porque exista um determinado mito que qualquer tipo de celebração desse mito esteja automaticamente justificado.

Por exemplo, os Maias faziam sacrifícios humanos em nome do mito da criação, e os cartagineses do norte de África sacrificavam crianças no altar ao deus Baal. De uma forma semelhante, o aborto assume uma forma religiosa na medida em que os nascituros são sacrificados no altar do deus Utilitarismo — mas desta nova religião irracional, não falam os ateus...!

Quando uma religião vai contra os princípios da lei natural (os dez mandamentos; por exemplo, “não matarás!”), não pode ser considerada um religião propriamente dita. O Islamismo não é uma religião propriamente dita, porque o Alcorão apela sistematicamente ao assassínio. Uma dita “religião” que apela sistematicamente ao assassínio não pode ser considerada uma religião.

Se o Alcorão diz que matar pessoas é coisa boa, ¿como é que os muçulmanos podem deixar de ser assassinos em potência?

O que o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada não pode afirmar (implicitamente) é que o Alcorão não diz aquilo que diz — embora esteja lá escrito! O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada está um pouco como o Groucho Marx: “¿Acreditas no que os teus olhos mentirosos vêem, ou naquilo que eu te digo?!” Pois eu acredito no que os meus “olhos mentirosos” vêem (e lêem).

2 comentários:

  1. Muito interessante.

    Orlando, acompanhe a seguinte discussão: http://oglobo.globo.com/sociedade/mpf-recorre-de-decisao-da-justica-que-nao-reconhece-umbanda-candomble-como-religioes-12507234

    http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ha-ofensa-e-fundamentalismo-na-decisao-contraria-a-umbanda-e-ao-candomble-7480.html

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    1. Não conheço a essência do Candomblé e nem a Umbanda; por isso, não posso falar.

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