quarta-feira, 21 de maio de 2014

O problema do livre-arbítrio

 

A neurociência está equivocada quando pretende abordar sozinha o problema do livre-arbítrio (no ser humano, obviamente). É um absurdo abordar cientificamente o livre-arbítrio sem ter em conta, nomeadamente, a física quântica.

Vamos falar aqui sobre a Teoria da Consciência, do físico Eugene Wigner. Para já, há que observar este vídeo acerca do comportamento das partículas elementares vs. onda quântica: quando “observadas”, a onda quântica transforma-se em partícula.

Eugene Wigner dizia que a observação da onda quântica por uma consciência (humana) “transforma-a” em partícula; porém, hoje sabe-se que não é necessária a presença in loco de uma consciência humana para que essa transformação se faça: basta que um aparelho ou dispositivo de medição seja devidamente instalado, e mesmo que não exista uma pessoa (consciência) próxima do processo de medição. É a interferência do processo de medição na realidade quântica que faz com que a onda, que ou não tem massa ou tem uma massa mínima, se transforme em uma partícula elementar que tem massa (matéria, propriamente dita).

Um dispositivo de medição pode ser também, por exemplo, uma máquina fotográfica digital, ou uma máquina de filmar digital que pode ser de infravermelhos ou de visão nocturna. Estes dispositivos interferem (fazem medições) com a realidade quântica e com a complementaridade onda/partícula. A luz interfere também com a realidade quântica (complementaridade onda/partícula). Por isso é que a máquina de filmar com visão nocturna consegue captar imagens de fenómenos quânticos de interferência onda/partícula, em um ambiente de relativa ausência de luz.

interferencia-onda-particula-web 

Os fenómenos registados de “interferência” acontecem como se os fenómenos, em si mesmos, decidissem como e quando devem ocorrer: a probabilidade de um fenómeno ocorrer é uma probabilidade objectiva, ou seja, essa probabilidade não depende apenas de uma falta de conhecimento científico acerca das razões causais. Os fenómenos de medição quântica (por exemplo, através de uma máquina de filmar digital de visão nocturna) acontecem porque existe uma razão causal que está na base de uma probabilidade estatística que é estranha ao determinismo científico tradicional.

Os fenómenos atómicos não decorrem em um determinado lugar e em um determinado momento: pelo contrário, têm apenas a “tendência” para surgir; são apenas meras possibilidades (“possibilidades”, do ponto de vista da ciência). São os próprios fenómenos que decidem se surgem ou não (dependendo se existem os meios físicos necessários para que eles surjam). Não existe uma causa (naturalisticamente falando) responsável pela ocorrência desses fenómenos. John Gribbin escreveu: “Isso acontece simplesmente sem uma razão especial, mais provavelmente agora do que num outro momento”.

A característica de os fenómenos decidirem se surgem ou não significa que, pelo menos em grande parte, existe por detrás dos fenómenos (a razão da causa dos fenómenos) uma inteligência com vontade, ou seja, de uma consciência. Essa consciência pode ser exclusivamente humana se pensarmos que em um universo com vários milhões de milhar de galáxias, só existe consciência humana — o que me parece não só improvável como até absurdo.

Portanto, o livre-arbítrio depende da consciência (podem-lhe chamar outra coisa qualquer: por exemplo, alma, espírito) que existe para além do hardware composto por partículas elementares (matéria, com massa) que, no caso do ser humano, é o cérebro. E, por outro lado, o livre-arbítrio depende do estado da consciência, ou seja, do grau de consciência que decide: quanto mais baixo for o grau de consciência (o nível de compreensão universal e holística da realidade), menor o grau de liberdade da consciência.

Neste sentido, o livre-arbítrio é determinado pelo grau de consciência — e por isso é que se diz que “aquela pessoa não poderia ter tomado outra decisão senão aquela que tomou”. Mas este determinismo relativo, que existe em função do nível de consciência, não é inquebrantável, não é definitivo. Por outro lado, o grau de consciência não depende exclusivamente dos conhecimentos (por exemplo, conhecimentos científicos) que uma pessoa possa ter, embora os conhecimentos adquiridos sejam importantes para a evolução da consciência.

Não podemos separar a matéria, por um lado, da pessoa ou do modo como a pessoa (consciência) observa, por outro lado. Neste sentido, a observação da pessoa (consciência) corresponde ou é semelhante à medição quântica por parte de um dispositivo, embora a consciência seja imbuída da vontade que um mero dispositivo não tem. A observação da pessoa (consciência), ou a qualidade da observação da pessoa, interfere com a realidade quântica e com a complementaridade onda/partícula, contribuindo também para a criação de possibilidades de eventos.

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