quarta-feira, 4 de junho de 2014

O suicídio como acto gratuito

 

Ninguém pode dizer que “desta água não beberei”; a realidade está sempre a colocar-nos à prova. Mas, em ética, podemos defender teses. Não é um julgamento, o que eu estou fazer aqui. Refiro-me ao suicídio do ex-autarca socialista de Torre de Moncorvo e da sua ex-mulher.

Hoje confunde-se sistematicamente (a começar pelo "papa Francisco"), “julgamento ontológico”, por um lado, e “juízo de valor”, por outro lado. Sem juízo de valor, a nossa vida não faz sentido; ou melhor: a ausência de sentido passa a ser o único juízo de valor válido. Hoje, quando se faz uma análise crítica sobre o comportamento de alguém, dizem-nos muitas vezes que “estamos a fazer um julgamento” que implica uma “condenação”, como se fôssemos um juiz de um tribunal; ora, essa opinião também é um juízo de valor, embora negativo.

Todas as religiões universais consideram o suicídio como a maior falta moral, logo a seguir ao assassínio. Em muitos casos, o acto do suicídio é uma manifestação subjectivista de uma certa liberdade da indiferença ou de um acto gratuito; noutros casos pode ser de facto um acto guiado por um desespero real, ou seja, um desespero que deriva da impossibilidade objectiva de se poder manter um nível mínimo de sobrevivência.

Por exemplo, quando recentemente um mendigo se enforcou em uma árvore em frente à Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, tratou-se de um acto de desespero real, de alguém que não tinha mesmo quase nada para comer e que dormia ao relento. Mas ¿o que leva uma pessoa, com uma boa reforma e um bom nível de vida, ao suicídio? O ex-autarca de Torre de Moncorvo escreveu que ambos (ele e a ex-mulher) tinham uma doença que não foi especificada. Mas mesmo que ambos tivessem uma doença terminal (ele com 59 anos, e ela com 55 anos de idade), ¿será que o suicídio se justifica (racionalmente)?

Não faltarão pessoas que dizem que aquele suicídio a dois foi um “acto de amor”. Mas ¿como é que um acto de amor se traduz e se expressa em um acto de desamor?

A alma do suicida fecha-se em si própria e não se abre à experiência e à influência do divino. A alma do suicida, como a do assassino, é uma alma penada: o seu sofrimento não cessa, com a morte: apenas entra uma dimensão de muito difícil redenção. O sofrimento passa a ser a essência da alma do suicida, quando antes do suicídio era apenas a substância de uma experiência que poderia ser alterada.

Deus nos livre do assassínio e do suicídio.

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