terça-feira, 16 de setembro de 2014

¿Pretende o Estado criar PPP (Parcerias Público-privadas) na cultura?

 

Discute-se a se o Estado deve subsidiar a “cultura”.

O ideal seria que existisse um mercado de alta cultura em Portugal, para que o Estado não impusesse taxas a todos os cidadãos para subsidiar a cultura; mas esse mercado não existe de facto; as livrarias, por exemplo, “estão às moscas”; e quando existiram arroubos de mercado livreiro, por exemplo, (no tempo das vacas gordas), eram para comprar os romances rombudos da Margarida Rebelo Pinto.

Portanto, a discussão está inquinada, porque a cultura não está na moda e a moda “virou” cultura. Não existe uma tradição de alta cultura. Se nos baseamos apenas no “mercado da cultura” que existe, esta resume-se às telenovelas da SIC em que há sempre um gay de serviço, e pouco mais.

E a situação tende a piorar: com o Acordo Ortográfico, o valor da língua decresce, passamos a ter uma gama baixa da língua — que dizem eles “ser acessível a toda a gente” — e deixamos de ter acesso à gama alta do mercado da língua que vai paulatinamente desaparecendo. O Acordo Ortográfico significa o filistinismo aplicado à literatura portuguesa e à cultura em geral: Portugal transforma-se num imenso Brasil.

conjunto maria albertinaImpõem-se perguntas: ¿o que é que o Estado pretende subsidiar com o dinheiro dos nossos impostos? O filistinismo cultural? Os romances de gama baixa da Margarida Rebelo Pinto? A música Pimba? As rendas fixas e vitalícias de alto coturno de artistas que já não produzem nada?

Pretende o Estado criar PPP (Parcerias Público-privadas) na cultura?

Eu percebo que o Estado subsidie, por exemplo, a ópera no Teatro de S. Carlos, ou o Teatro de S. João, ou recitais de piano na Gulbenkian ou no CCB — porque é um tipo de cultura de gama alta a que a tradição portuguesa não está vinculada. Educar o povo pode ser subsidiar gente com qualidade.

Para a cultura sem qualidade, existe o mercado sem qualidade do cidadão sem qualidade. Para a cultura sem qualidade existe o baile da aldeia com o Conjunto António Mafra. Pôr o povo a pagar impostos para subsidiar, por exemplo, a canção do Pito da Maria, é transformar o filistinismo em alta cultura. É isto que Passos Coelho e a Esquerda estão a fazer, mas também não poderíamos esperar deles outra coisa.

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