“Como escreve Pierre Bayard, (que aqui tento traduzir o melhor possível), «a cultura é, sobretudo, uma questão de orientação. Ser culto não é ter lido este ou aquele livro, mas saber orientar-se no conjunto deles; ou seja, saber que os livros formam um conjunto e ser capaz de situar cada elemento em relação aos restantes».”
"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa de salvar-se."→ Almada Negreiros
Ter cultura intelectual (que é diferente de “cultura antropológica”) é ter noções que são produto da consciência de conceitos. Quantas mais noções se têm, mais conceitos foram previamente conhecidos. Sobre um conceito, não chegam todos os livros que se possam escrever acerca dele, porque tudo o que se possa escrever acerca de um conceito, raia o infinito.
Aquilo que dá significado a um conceito — ou seja, que dá uma noção a um conceito — é o valor que lhe é atribuído.
Certamente que há conceitos que o Homem ainda desconhece, em relação aos quais ainda não tomou consciência, e por isso não pode retirar deles as noções que lhes podem dar valor. Mas há conceitos que o Homem conhece que não são tão valorizados, a um determinado momento, como outros são — o que também depende muito da moda de cada época; e, neste sentido, há noções que se perdem na cultura em um determinado tempo e que voltam mais adiante — é “a velhice do eterno novo”, segundo Fernando Pessoa.
A cultura é a relação com o valor. E o valor que atribuímos à realidade compartimentada depende do consciência de conceitos que possamos conhecer, e não necessariamente da leitura de todos os livros de uma biblioteca.
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