terça-feira, 25 de novembro de 2014

A pseudo-ciência da Elisabete Rodrigues

 

O David Marçal fez questão de escrever um livro sobre pseudo-ciência, mas esqueceu-se de falar nas novas pseudo-ciências sociais e humanas. A socióloga Elisabete Rodrigues é um exemplo de pseudo-ciência (façam o favor de ler este texto).

“Há um exercício muito simples que pode guiar-nos até à resposta. O exercício baseia-se numa escala de um a dez, cujos extremos representam o máximo masculino e o máximo feminino. Se imaginarmos uma escala deste tipo e nela nos tentarmos posicionar, são poucas as pessoas que escolherão as posições mais extremadas. A maior parte delas identifica-se com os valores intermédios, quatro, cinco ou seis. No caso dos homens, isto deve-se ao facto de valorizarem cada vez mais características associadas ao estereótipo feminino, como a sensibilidade ou os cuidados com o corpo e a aparência, e defenderem a igualdade entre os sexos.”

1/ Repare bem o leitor (extenditur ad speciem humanam, etiam feminis): segundo a Elisabete Rodrigues, um homem é mais ou menos masculino dependendo dos valores que assume. Ou seja, a biologia depende dos valores. O David Marçal deveria colocar os olhos nisto!

Por outro lado, quando a Elisabete Rodrigues fala de “igualdade entre os sexos”, mas não diz que tipo de “igualdade” está a falar. Podemos supôr que ela se está a referir à igualdade perante a lei, porque não vejo que exista qualquer outro tipo de igualdade entre os dois sexos. No caso de igualdade perante a lei, o princípio da igualdade opõe-se aos privilégios, e baseia-se geralmente em um princípio de igualdade natural. Isto não significa que todos os seres humanos tenham o mesmo poder ou as mesmas características, mas antes que têm uma dignidade igual.

Se é isto que a Elisabete Rodrigues quis dizer com igualdade entre os sexos, estou de acordo. Mas a verdade é que a ambiguidade da Elisabete Rodrigues é propositada e irritante — porque a socióloga fala em nome da ciência.

“Tal como o Manuel, todos conseguimos identificar na nossa própria personalidade e estilos de vida características que são culturalmente associadas ora ao universo feminino, ora ao universo masculino. Os homens e as mulheres reais deslocam-se entre estes dois universos, podem estar mais próximos de um do que de outro, mas vão buscar a ambos fontes de identidade. A verdade é que a masculinidade ou a feminilidade não existem em estado puro. Alguém consegue dizer, sou 100% masculino? O que seria tal coisa?”

Na sua ambiguidade, é possível que a Elisabete Rodrigues se refira ao conceito marxista de “igualdade”, que se orienta na direcção de um igualitarismo que procura igualar os meios e as condições de existência. Ou seja, ela estará, provavelmente, a confundir “igualdade”, por um lado, e “identidade”, por outro lado. A “igualdade” parte do princípio segundo o qual os indivíduos têm uma natureza ou uma dignidade comuns, mas não são semelhantes em todos os outros aspectos — “igualdade” e “diferença” são perfeitamente conciliáveis.

homem-sec-182/ O homem, ao longo da História, sempre foi vaidoso. O que varia é o tipo de vaidade, conforme as modas. Por exemplo, as rendas no vestuário, os cabelos compridos bem femininos, e as perucas, foram característica de uma certa classe dos homens do século XVII. Mas esses homens do século XVII nunca deixaram (em juízo universal) de ser masculinos, porque o que define a masculinidade é a biologia, e não os “valores” de cada época.

A Elisabete Rodrigues — tal como pensa toda a Esquerda — pensa que é possível alterar a biologia humana através da mudança de valores. A ignorância pseudo-científica da Elisabete Rodrigues consiste, neste caso, em não saber distinguir a “mudança” que ocorre no sujeito, por um lado, e a “mudança” que transforma uma coisa em outra coisa diferente.

Há que distinguir a mudança enquanto modificação do sujeito, total ou parcial, por um lado, e por outro lado a mudança enquanto transformação de uma coisa em outra coisa [Kant].

Na modificação do sujeito, a essência do sujeito não se altera; ao passo que na mudança enquanto transformação, o objecto deixa de ser uma coisa para ser outra coisa totalmente diferente na sua essência.

moda-masculinaPor exemplo, uma metanóia religiosa ou cultural pode mudar um indivíduo na sua mundividência e/ou no seu comportamento, mas não o muda na sua essência enquanto indivíduo — ou seja, não muda o fundamento da natureza humana.

Em contraponto, uma mudança em um modelo de automóvel pode mudar a própria essência e conceito de automóvel — por exemplo, a diferença essencial que existe entre um automóvel eléctrico e um automóvel a gasolina.

No caso do ser humano, essa mudança não elimina dele os estádios culturais anteriores em que se manifestou, ao longo do tempo, a sua essência e a sua natureza enquanto ser humano: os valores pretéritos da cultura permanecem no ser humano em função da própria natureza humana, e podem reaparecer no futuro, embora reinventadas e renovadas na sua expressão cultural, mas mantendo um idêntico fundamento que se escora na própria natureza do ser humano.

É impossível alterar a natureza humana senão através da alienação do conceito de ser humano.

3/ Ser 100% masculino ou feminino, é uma abstracção. É negar a biologia (em termos de juízo universal) através de um conceito abstracto de homem e mulher. É a mesma coisa que dizermos que “Fulano é 100% engenheiro”, e “Sicrano só é 70% engenheiro”. Ou se é engenheiro, ou não. Não existem “graus de engenharia”, em que uns são mais engenheiros do que outros (com excepção no caso de José Sócrates).

A ciência propriamente dita não pode lidar com conceitos abstractos. “O sentido de um conceito só é definido por meio de uma experiência concreta. Os conceitos não têm sentido no absoluto; a sua definição é apenas operacional” (Niels Bohr).

Quando um conceito é abstracto, entramos no domínio da metafísica. Eu valorizo muito a metafísica, mas não podemos confundi-la com a ciência positivista. E o problema é que a Elisabete Rodrigues apresenta-se como “socióloga” quando escreve aquilo. Este deveria ser um “case study” para o David Marçal.

O que me preocupa é que a burra Elisabete Rodrigues faz escola e molda opinião pública. Gente burra com sucesso. A burrice transforma-se em moda.

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