domingo, 28 de dezembro de 2014

O papa do ressentimento

 

O "papa Francisco" é a imagem espelhada do mundo actual em que existe uma abstracção do conceito de “dinheiro” na sua relação com os bens materiais concretos, por um lado, e por outro  lado esse conceito abstracto de “dinheiro” (separado da realidade) torna-se na centralidade da política.

Segue-se que a miséria existencial é, por isso, atribuída ao desejo material (os novos cristãos gnósticos), por um lado, e por outro  lado impera a ideia segundo a qual a abundância material gera felicidade (por exemplo, em Raquel Varela como em qualquer liberal de direita). Os papas têm procurado não cair nesta dupla armadilha, mas o "papa Francisco" é a imagem espelhada (a imagem invertida no espelho) deste tipo de cultura actual.

A verdade é que não existe uma relação directa entre a miséria material e a miséria espiritual, e a ausência de sentido de vida não é característica de um grupo social (rico ou pobre). Mas a ilusão de que  a abundância material é a causa da felicidade, ou que a miséria existencial está ligada ao desejo material (a diabolização de qualquer desejo que não seja utópico) é a principal causa do ressentimento e da inveja que grassa na cultura antropológica actual.

A procura obsessiva da igualdade material implica que o conceito de pessoa seja substituído pelo conceito atomizado de indivíduo, o que significa que as formas dos seres humanos sejam obnubiladas ou dissolvidas no conceito de “Homem Massa” de Ortega y Gasset; e a dissolução das formas humanas exacerba o ressentimento social do homem actual, ressentimento esse que não existia em tão grande escala no passado.

O discurso do papa Bergoglio reflecte claramente o ressentimento moderno, para além de desprezar a tradição e transmutar a transcendência em imanência — na linha Karl Marx, Nietzsche, de Heidegger, Jean-Paul Sartre, etc.

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