domingo, 21 de dezembro de 2014

Tenho muita pena, mas não concordo com o Padre

 

 

“Representação” não é a mesma coisa que “hipóstase”.

“Representar”  — não no sentido psicológico, mas no sentido jurídico ou pessoal — significa “assegurar a presença, por substituição, de alguém, que pode estar ausente ou não”.

Por exemplo, um advogado “representa” o arguido não obstante este esteja também presente no tribunal. A representação não significa necessariamente que o representado esteja ausente. O sacerdote, por maioria de razão, mas o cristão também, é um representante de Jesus Cristo.

O conceito de “hipóstase”, no sentido grego, designa uma personificação inferior de uma divindade mais importante.

Por exemplo, a ninfa Calisto era considerada uma simples hipóstase da deusa Artemisa. [Os primeiros padres — Patrística — recuperaram este conceito grego e passaram a designar como “hipóstases” as três pessoas da Santíssima Trindade]


O Padre Gonçalo  Portocarrero de Almada mistura aqui “representação” e “hipóstase”.

“Pelo Baptismo adquire-se uma verdadeira e real configuração com Nosso Senhor, ou seja, uma autêntica participação na sua filiação divina.

Contudo, o sacramento da ordem habilita o fiel para ser não apenas outro Cristo, mas o mesmo Cristo, na medida em que, por efeito dessa graça, adquire a capacidade de agir em nome de Jesus, isto é, como se fosse Ele próprio.

Por isso, quando um presbítero consagra o pão e o vinho, transformando-os, respectivamente, no Corpo e Sangue de Deus, ou perdoa os pecados, proferindo a fórmula da absolvição sacramental, não o faz em seu nome pessoal, em cujo caso nada aconteceria, mas enquanto é, nesse acto, Cristo, a quem não só representa como também personaliza.”

O sacerdote não é uma hipóstase de Jesus Cristo: apenas O representa.

E essa representação dá-lhe os poderes que o representado (Jesus Cristo) lhe outorga. O sacerdote é o “meio” através do qual Jesus Cristo é representado — mas não é uma personificação de Jesus Cristo (hipóstase).

Quando representamos alguém, não o fazemos em nosso nome pessoal (defendendo os nossos interesses), mas antes defendemos os interesses do representado. Mas isso não significa que o representante assuma uma personificação — ou personalização — do representado. Na Eucaristia, é Jesus Cristo que está presente (espiritualmente), e por isso não necessita de ser personalizado na figura do sacerdote que apenas O representa.

Uma vez que o sacerdote (mas também um qualquer cristão) não pode ser uma hipóstase de Jesus Cristo mas apenas O representa — o sacerdote com uma representação especial, é bem verdade!, porque o sacerdote é um apóstolo de Jesus Cristo  —, é impossível a qualquer cristão (incluindo os sacerdotes) agir como o próprio Jesus Cristo.

“Agir em nome de alguém” não é a mesma coisa que “agir do mesmo modo de alguém” — não só porque a acção de Jesus Cristo é ontologicamente irrepetível, mas também porque estamos a falar de um ser divino e cuja divindade não se estende à humanidade em geral. Haverá alguns sacerdotes, como por exemplo o Padre Pio, que se aproximam do modo de agir de Jesus Cristo, mas essa aproximação não significa uma “personalização” de Jesus Cristo (hipóstase).

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