terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Humildade — Nuno Serras Pereira

 

Ainda que eu me inclinasse pedindo bênçãos, me ajoelhasse para que rezassem sobre mim, beijasse os pés aos prisioneiros, ganha-se o aplauso geral dizendo aquilo que agrada às massas, se não tiver humildade, sou como um fogo de artifício, chamando as atenções sobre mim, cujo brilho mal nasce logo morre.

francisco-ambiguoMesmo que eu me dedicasse aos pobres, acudisse aos enfermos, visitasse os presos, expusesse o corpo às armas letais, se não tiver humildade nada sou.

Ainda que eu conviva com jornalistas, me torne acessível dando entrevistas em série, diga gracejos, me despoje de vestes elegantes, rejeite o oiro e a prata, se não tiver humildade de nada me aproveita.

Ainda que eu convoque colegiaturas, faça sondagens e inquéritos, troque um Ferrari por um Renault 4, se não tiver humildade não passo de um vácuo. Mesmo que sistematicamente denuncie o demónio e as suas tentações, senão tiver humildade não passo de um joguete nas suas mãos.

A humildade não é mentirosa, nem dúplice, nem dissimulada. A humildade não fabrica etiquetas fantasiosas para classificar a outros, nem revela publicamente pecados, reais ou imaginários, de grupos restritos, que têm direito ao bom nome e à boa fama.

A humildade é dócil à verdade, à Palavra revelada na Tradição e nas Escrituras; não estabelece duas “verdades” discordantes, incompatíveis, antagónicas, como se a prática pudesse contrariar a Palavra; não é gnóstica, nem nominalista.

A humildade atém-se ao Depósito da Fé, comunicada pelo Magistério da Igreja através de Concílios, Dogmas e Magistério ordinário universal, sincrónico e diacrónico. A humildade não confunde o povo de Deus, não diz e desdiz, não é desconcertante.

A humildade não tem uma imaginação febril atribuindo ao Espírito Santo inovadoras fantasias mundanas. Enfim, a humildade não é soberba, nem arrogante, nem orgulhosa.

A humildade é o fundamento de todas as virtudes e a raiz da santidade, isto é, do seguimento e identificação com Cristo, manso e humilde de coração.

Padre Nuno Serras Pereira
31. 01. 2015

1 comentário:

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.