quarta-feira, 25 de março de 2015

Filosofia e ciência

 


Thomas F. Bertonneau  é um filósofo e Sylvain Gouguenheim é um historiador (ciências humanas).

Thomas F. Bertonneau  pega num livro de Sylvain Gouguenheim e escreve este ensaio sobre ele (o livro). O filósofo faz uma análise à  tese de um historiador (neste caso), como poderia fazer uma análise de um qualquer postulado ou teoria científicos, seja na matemática, na química ou na física.

Ou seja, um filósofo não precisa de ser um especialista em um determinado campo do conhecimento — um cientista, por exemplo  — para falar dele. O filósofo estabelece relações epistemológicas entre vários níveis e tipos de conhecimento que não se reduzem à  ciência positivista: reduzir (todo) o conhecimento à  ciência positivista é tentar definir a Realidade, o que é uma impossibilidade lógica e objectiva.

Por outro  lado, o cientista tem que partir do postulado (absurdo) segundo o qual é possível definir a Realidade, porque, sem essa fé, a ciência seria impossível: trata-se da maior fé que existe (a do cientista) porque é inconfessável. O cientista parte de um postulado absurdo (a possibilidade da definição da Realidade) para tentar encontrar um sentido para a ciência — assim como, por exemplo, Newton partiu de um postulado hoje considerado absurdo (a noção de espaço e tempo absolutos) para fundamentar a sua dinâmica. Por isso, em regra, um cientista moderno não pode, em geral e salvo raras excepções, ser um filósofo propriamente dito.

O senso crítico do cientista e da sua comunidade de especialização, tendo como base a observação e a inferência, é restrito a um segmento da Realidade: falta-lhe quase sempre uma concepção holística daquilo que é possível apreender da Realidade para além de um determinado campo de especialização. A filosofia deve intervir constantemente no campo das ciências, quanto mais não seja para lembrar que os problemas resolvidos não podem ser declarados  encerrados sem que se arrisque a ser o sentido da solução que lhes foi dada, bem como o sentido da questão que os levantou.

A questão do Real permanece assunto para os filósofos. A ciência, apesar de ter mudado continuamente o panorama da filosofia, nunca conseguiu suplantá-la; e não vai nunca até ao fim das questões que levanta. O cientista, na maioria das vezes, julga filosofar quando apenas opina. Ter construído um formalismo ou uma técnica não significa tê-los interpretado. Já Platão, no “Timeu”, não aceitou dar à ciência uma definição puramente operatória que ele achava muito rudimentar. A filosofia conservará sempre a sua própria arena e as suas próprias modalidades.

Portanto, a ideia segundo a qual “a ciência é para os cientistas e a filosofia é para os filósofos, porque os filósofos não são especializados em um determinado campo do conhecimento” (como se a filosofia se separasse da Realidade que inclui a ciência), é um preconceito negativo académico (uma espécie de dogma moderno).

Já agora, aconselho a leitura do ensaio de Thomas F. Bertonneau que refuta a ideia, muito em voga e introduzida pelo Iluminismo, de que a Idade Média foi uma “idade das trevas”. 

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