domingo, 29 de março de 2015

O Instituto Ludwig Von Mises Brasil e o marxismo cultural

 

“Trata-se aqui de uma utopia cujo carácter é mais negativo que positivo pois, diversamente da utopia clássica (Platão, Tomás Moto, Campanella, Fourier) que prescrevia, às vezes pormenorizadamente, a forma da cidade ideal, concentra-se sobretudo na crítica dissolvente da sociedade real.

O carácter negativo da nova utopia é evidente no movimento conhecido por Escola de Frankfurt. Iniciou-se este na Alemanha, em Frankfurt, quando, em 1931, o “Instituto de Investigação Social” passou a ser dirigido por Max Horkheimer (nascido em 1895) e tem os seus maiores representantes mas pessoas de Theodor W. Adorno e Herbert Marcuse.”

→ extracto do livro XIV da “História da Filosofia” de Nicola Abbagnano, § 865, com o título “Utopia Negativa”


“O tonto consegue captar o subtil, mas não vê o óbvio.” — Nicolás Gómez Dávila

O Instituto Ludwig Von Mises Brasil publica aqui um artigo inacreditável, por exemplo:


“Qualquer indivíduo que considere que marxismo cultural é marxismo não entende nada de marxismo.”

Ou seja, o chamado “marxismo cultural” não é marxismo. Mais adiante:

“Os marxistas culturais dividiram o campo marxista.  Seus ataques à cultura podem ser interpretados como uma táctica, mas eram mais do que uma táctica: eram uma estratégia.  Eram uma estratégia baseada no abandono do marxismo original.”

Ou seja, o marxismo cultural não é marxismo, mas, no entanto, é marxismo porque dividiu o campo marxista (!).


A ideia segundo a qual  “o marxismo reduz-se à  área da economia” é miopia americana que está na moda e é seguida caninamente pela maioria dos “liberais” portugueses e brasileiros; e essa é uma das razões por que não frequento regularmente o sítio do Instituto Ludwig Von Mises Brasil.

Olavo de Carvalho cai um pouco no sofisma politicamente correcto “liberal” americano:

“Na verdade o termo "marxismo cultural", como já assinalei, não é muito exacto, porque TODO marxismo age primeiramente na esfera cultural, conquistando as elites intelectuais e não directamente –- ou até raramente – as massas proletárias. Todo o Leninismo é baseado nisso.”

A verdade é que não há nenhuma ideologia que não se propague (com maior ou menor eficácia e sucesso) culturalmente a partir de elites intelectuais e/ou outras (a chamada ruling class). Nenhuma! Georg Simmel demonstrou isso mesmo, de uma forma exaustiva, no início do século XX através do conceito de Trickle-down Effect.

Mas se nós nos referirmos a um putativo “liberalismo cultural” (liberalismo político, por exemplo), em contraponto a um liberalismo económico, não haveria aqui uma tautologia que não existisse também no conceito de “marxismo cultural”.

Parece que Olavo de Carvalho mistura os conceitos de “cultura intelectual”, por um lado, e de “cultura antropológica”, por outro  lado. O “marxismo cultural” pretende atingir a cultura antropológica, coisa que o marxismo clássico ou económico jamais conseguiu ou provavelmente nunca conseguirá fazer de forma directa e eficaz.

Portanto, o “marxismo cultural” é cultural sobretudo no sentido do alvo a atingir, que é a cultura antropológica.


A ideia revolucionária e marxista do “Homem Novo”, segundo o marxismo cultural ou Utopia Negativa (é a mesma coisa; é uma questão de terminologia), é transferida provisoriamente da clássica luta de classes, para a luta social entre grupos culturais e em nome da “igualdade”, por exemplo, através do conceito de Marcuse de “tolerância repressiva”. O lema do marxismo cultural é o seguinte: “Quem não tem cão, caça com gato”.

Outra pérola do sítio do Instituto Ludwig Von Mises Brasil:

“Eis o problema: os conservadores de hoje levam excessivamente a sério as declarações dos marxistas culturais da Escola de Frankfurt, que na realidade não eram marxistas.”

Afirmar, por exemplo, que Max Horkheimer  não era marxista é desmentido até pela pobre Wikipédia!. Nicola Abbagnano , na obra supracitada, escreve o seguinte:

Todos os três [Max Horkheimer  Theodor W. Adorno e Herbert Marcuse] ligam estreitamente a investigação filosófica à  sociologia e à  psicologia e declaram inspirar-se em Hegel, Karl Marx e Freud (…) A Karl Marx vão buscar sobretudo a crítica da sociedade capitalista e a prognose do seu fim eminente.

Perante isto, e em função do artigo do sítio do Instituto Ludwig Von Mises Brasil, tenho que concluir que Nicola Abbagnano  é burro e que “americano é que sabe de filosofia europeia”. Se quem defende que “a crítica marxista da sociedade capitalista e a prognose do fim do capitalismo”, não é “marxista”, então só pode burro. O esperto é o americano.

“A vida do homem moderno move-se entre dois pólos: negócio e coito.” — Nicolás Gómez Dávila

Nietzsche escreveu, no século XIX, que “Deus morreu”, e muita gente acredita. O americano escreveu no sítio do Instituto Ludwig Von Mises Brasil que “o marxismo cultural morreu”, e muita gente acredita. Esta ideia de que o marxismo cultural (ou Utopia Negativa) está morto ou nunca existiu, não é tão minoritária quanto possa parecer à primeira vista.

¿Por que razão existe esta nova corrente liberal de negação (negacionismo) em relação ao marxismo cultural ou Utopia Negativa?


“O tonto não se contenta com a violação de uma regra ética: pretende que a sua transgressão se converta em regra nova.” — Nicolás Gómez Dávila

1/ burrice americana típica que decorre da influência histórica do Pragmatismo na cultura americana.

2 / tentativa de elaboração de uma síntese dialéctica em que o Marginalismo neoliberal surge como o “fim da História” (Francis Fukuyama). Ou seja, o próprio “liberalismo” entra na lógica do materialismo dialéctico — o que é pouco inteligente.

3/ tentativa de “recuperar” o politicamente correcto para dentro do sistema capitalista, isto é, fazer com as armas da guerra cultural de esquerda sejam anuladas por intermédio de uma “recuperação cultural” do politicamente correcto por parte do liberalismo económico.

Por exemplo: o “conservador” David Cameron apoia o "casamento" gay ainda mais do que a esquerda inglesa e mesmo mais do que a comunidade gay britânica!. Trata-se de uma estratégia liberal suicida a médio prazo, porque neste caso o liberalismo tende a destruir as bases culturais que fundaram o capitalismo (ver Max Weber). Chama-se a isto “empurrar, para adiante, os problemas com a barriga”.

 

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