Quando analisamos uma teoria ética, devemos ter em atenção três problemas:
1/ a consistência ou coerência interna da teoria ética;
2/ a consistência ou coerência da teoria ética em relação a outras concepções do autor da dita;
3/ a resposta da teoria ética de acordo com os nossos sentimentos éticos, ou de acordo com os sentimentos éticos do senso-comum.
Se, em relação aos pontos 1 e 2, a conclusão é negativa, a teoria ética não é válida, na medida em que existe um qualquer erro intelectual; mas se for negativa em relação ao ponto 3., não podemos dizer que o autor errou mas apenas que não estamos de acordo com a teoria.
Peter Singer baseia a sua teoria ética na oposição ao conceito de especismo.
O termo “especismo” foi cunhado pelo psicólogo inglês Richard Ryder e adoptado pelo “eticista” australiano Peter Singer.
Neste contexto, o especismo é (alegadamente) uma doutrina ética segundo a qual o ser humano, ou seja, o homo sapiens, é superior aos outros animais do ponto de vista ontológico, do ponto de vista biológico, e do ponto de vista moral.
O argumento de Peter Singer contra o especismo – a que podemos chamar “animalismo”, porque não encontramos até agora qualquer terminologia nesse sentido – , é o de que a pertença a uma determinada espécie biológica não tem qualquer importância moral, biológica e ontológica.
Contudo, a teoria ética de Peter Singer — a podemos chamar de “animalismo” — , como antítese do especismo, é incompatível com o darwinismo que considera o homo sapiens como o produto último da evolução biológica (ponto 2). Mas Peter Singer adopta também o darwinismo (ponto 1) na sua concepção ética.
Ou seja, existe uma incoerência ou uma inconsistência entre a teoria ética de Peter Singer (contra o especismo), por um lado, e por outro lado, outras concepções filosóficas dele (a favor da evolução darwinista).
Portanto, Peter Singer incorre em um erro intelectual e a sua teoria ética não é válida.