quarta-feira, 1 de abril de 2015

Panteísmo e panenteísmo

 

Panentheism is the notion that everything is in God. It defines itself in contradiction to pantheism. Nevertheless it is a controversial idea, not least because to some it rather smells of pantheism. But in fact it isn’t anything like pantheism.”

Orthodox Panentheism

Ali diz-se que o panenteísmo é diferente do panteísmo (ver conceito). Ora, em metafísica, a definição de “panteísmo” é a seguinte: “doutrina segundo a qual  tudo o que existe está em Deus” — o que é exactamente a definição dada acima para “panenteísmo”.

Em bom rigor, a noção de panenteísmo dada por filósofos como por exemplo Karl Jaspers, é a de que “Deus é o englobante do universo, na medida em que está para além da dimensão do sujeito/objecto”. Portanto, segundo o panenteísmo, o sujeito e objecto anulam-se na dimensão do englobante do universo que é Deus.

A diferença entre o panteísmo, por um lado, e o panenteísmo, por outro  lado, é formal; no essencial são doutrinas idênticas. E partem ambas de um princípio contraditório: o de que a causa (Deus) se identifica com o efeito (o universo).

Ora, se existe uma identidade — ou seja, se não existe uma diferença essencial — entre uma causa e o seu efeito, então não podemos afirmar que se trata, de facto, de causa e de efeito. A condição de um fenómeno (a causa de um fenómeno) não se pode identificar, na sua essência, com o fenómeno produzido (com o efeito gerado).

O corolário do panteísmo e do panenteísmo é o de que criação do universo por Deus é implícita- (no caso do panenteísmo) ou explicitamente (no caso do panteísmo) negada — porque a causa e o efeito são anuladas. E sem causa e efeito, não há lugar para qualquer criação como “obra de Deus”.

1/ Para que o universo seja um efeito (uma criação de Deus) terá que haver uma causa suficiente distinta — na sua essência — do universo.

2/ Se a causa (Deus) é distinta na sua essência, em relação ao universo, não pode Aquele confundir-se essencialmente com este, seja na forma panteísta, seja na forma panenteísta.

3/ A distinção essencial entre a causa (Deus) e o efeito (mundo) não significa que “Deus tenha criado o mundo e se tenha, depois, ausentado” (deísmo, ou a doutrina do “Deus ausente”).

Isaac Newton defendeu — ao contrário do panenteísmo tendencial de Leibniz e do panteísmo claro de Espinoza — que “Deus actua no universo a cada instante cósmico, para reafirmar as leis da natureza e sob pena de universo se extinguir no olvido”. Embora a essência de Deus seja distinta da essência do mundo (não se podem confundir as duas essências), isso não significa que Deus (a causa) não possa intervir no mundo (o efeito).

4/ Se as essências de Deus e do mundo são distintas, a noção de “englobante do mundo” atribuída a Deus pelo panenteísmo, perde qualquer sentido — porque uma coisa que engloba outra coisa não é essencialmente distinta da coisa que engloba. O panenteísmo — tal como o panteísmo — nega logicamente a distinção entre as essências do mundo e de Deus.

O facto de Deus estar presente em todas as coisas, não significa que Deus e as coisas tenham a mesma essência (como logicamente defende o panenteísmo).

Por analogia (vou repetir: é uma analogia, uma metáfora):

Um patrão pode gerir a sua empresa por telefone a maior parte do tempo sentado no seu escritório que pode estar situado fora da empresa, sem que a sua identidade se confunda com a identidade da empresa. Através do telefone, o patrão faz com que as coisas aconteçam na empresa, por um lado, e por outro  lado assegura que as regras (as leis) sejam cumpridas dentro da empresa. Metaforicamente, o telefone é o que liga a imanência  da realidade da empresa à  transcendência da realidade do patrão.

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