segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Banco de Portugal diz que o salário mínimo é máximo

 

Conheço pessoalmente alguém que tem um mestrado em bioquímica e que ganha cerca de 600 Euros brutos no controlo de qualidade em uma empresa privada; o governador do Banco de Portugal pensa que 600 Euros brutos é muito dinheiro.

O corolário da ideia do Banco de Portugal parece ser a seguinte: se toda a gente ganhar o salário mínimo, o desemprego diminui. É preciso nivelar por baixo. Em última análise, poderíamos abolir o salário mínimo de forma a que o nível salarial português fosse equiparado ao chinês no câmbio monetário — porque a nível interno, o chinês teria um salário real superior, como é óbvio.

Para o Banco de Portugal, já não chega a actual flexibilidade para despedir: é preciso também flexibilidade para reduzir salários.

Esta posição do Banco de Portugal revela que os donos do sistema que se apoia no Euro estão “entalados”. Para salvarem o Euro em Portugal estão já dispostos a tudo, inclusivamente a condenar o povo em geral a uma situação de indigência. A posição portuguesa pró-euro atingiu um nível de fanatismo ideológico — mas continuam a dizer que quem coloca o Euro em causa é “fanático”.

O Banco de Portugal não conhece a economia real. O governador deveria ser demitido, se possível. Os técnicos do Banco de Portugal são incompetentes, e por isso deveriam ver os seus salários diminuídos.

Os factores de competitividade em Portugal estão menos relacionados com os salários do que com os custos estruturais de funcionamento das empresas — por exemplo, o custo da energia que é mais elevado do que em Espanha; mas nunca se ouvirá o Banco de Portugal criticar o monopólios privados no sector da energia: prefere manter as rendas fixas na EDP e sugerir o nivelamento por baixo dos salários.

A “incompetência” do Banco de Portugal vai ao ponto de comparar o Portugal do Escudo de 1985 com o Portugal do Euro de 2015! — sem ter em conta o poder de compra real nos dois casos. Por exemplo, ¿quanto custava um litro de leite, em escudos e em relação percentual com o salário médio, em 1985? e quanto custa hoje um litro de leite, na mesma proporção, em Euros?

Mesmo que a proporção (nos dois casos) fosse idêntica, a comparação do Banco de Portugal só revela que o Euro é um fracasso — porque seria suposto que a alienação da soberania monetária traria alguma vantagem ao povo. Se a adesão ao Euro não trouxe nenhuma vantagem concreta ao nível de vida do povo, ¿como se pode explicar ao povo que a alienação da soberania monetária é boa para o país?

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