terça-feira, 21 de julho de 2015

O veneno cultural do Frei Bento Domingues

 


“Cada cursilho obedecia a uma selecção dos participantes, apenas de varões, apoiado em ficha secreta. Era moderadamente interclassista. O cenário do acolhimento, o cancioneiro espanholado, de colores, os gestos, os rolhos doutrinais, recheados de anedotas certeiras, destinavam-se a desconstruir o imaginário de uma religião beata e para beatas e fazer a passagem exaltante para o essencial de um catolicismo másculo, marcado pela euforia do sacrifício e do testemunho, sem preocupações de transformação social imediata. O grande e repetido enunciado de marca, com eficácia do melhor marketing, era este: a religião católica não é para mulheres.”

→ Frei Bento Domingues: A religião não é para mulheres

1/

fbd-2-webA minha experiência desmente o Frei Bento Domingues: em meados da década de 1960, os meus pais1 frequentaram (em separado, e em Moçambique) os chamados “cursos de cristandade”. Portanto, a afirmação de Frei Bento Domingues de que “cada cursilho obedecia a uma selecção dos participantes, apenas de varões — segundo a minha experiência — não corresponde à verdade. Aliás, foi a minha mãe que conseguiu convencer o meu pai a frequentar o tal curso de cristandade, porque ele não estava minimamente pelos ajustes.

Ademais, mesmo que os cursos de cristandade fossem inicialmente só para homens (o que não aconteceu com os meus pais, portanto, não tenho experiência dessa realidade), constituíam um fenómeno elitista dentro da Igreja Católica de antanho: apenas uma ínfima minoria de católicos lhes tinha acesso. Dizer que “a religião católica não era (ou é)  para mulheres” baseando-se na realidade elitista dos cursos de cristandade da década de 1960, é um abuso, um enviesamento interpretativo da realidade.

2/

Depois da extensíssima documentação hagiográfica disponível na história da Igreja Católica relativa a mulheres (por outras palavras: na Igreja Católica, as santas são mais do que muitas), já não falando no papel salvífico especial que a Igreja Católica dá a Maria Mãe de Jesus — é um absurdo que o Frei Bento Domingues sinta a necessidade de denunciar uma “Igreja Católica machista”, quando o que se passa realmente é que os papéis e funções do homem e da mulher na Igreja Católica são diferentes, como não poderia ser de outro modo.

Quando o Frei Bento Domingues parece negar toda a história da Igreja Católica e das suas santas — desde logo, a nossa Santa Isabel, esposa de D. Dinis —, fazendo desse legado tábua rasa em nome de uma pretensa “igualdade” da mulher em relação ao homem, o que Frei Bento Domingues está a fazer é a envenenar o espírito dos católicos com a ideologia política saída da Escola de Frankfurt: o marxismo cultural.


Nota
1. ele e ela; hoje é necessário dizer que os pais são “ele e ela”.

2 comentários:

  1. O mérito real parece ser inversamente proporcional à publicidade ou exposição mediática concedida.
    Essa parece ser a regra, não?

    ResponderEliminar

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.