segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O Domingos Faria consegue definir “realidade”

 

O Domingos Faria começou muito bem este seu (dele) artigo sobre as definições, mas teve necessariamente que borrar a pintura quando estendeu o conceito de “definição”, a Deus. Ao pretender definir Deus, o Domingos Faria pensa que pode também definir “realidade” (porque existe uma identificação representativa entre Deus, por um lado, e a realidade, por outro lado). Ora eu, simples mortal, não consigo definir a “realidade”; mas isso sou eu, que não tenho a genialidade do Domingos Faria.

Quando definimos uma coisa, definimos o conteúdo representativo dessa coisa, e não apenas a sua forma. Ora, de Deus — assim como da “realidade” — só podemos falar da forma; por isso, tanto os conceitos de Deus como o de “realidade” são indefiníveis.

lobotomia-png-webSe concebermos a “realidade” como qualquer coisa absolutamente racional (no sentido empírico), então segue-se que a “realidade” é reduzida à exterioridade ou ao concreto; e esta redução da realidade ao concreto só encontra o seu sentido através da dialéctica (Hegel): mas a finalidade da dialéctica é abolir a realidade — o que é uma contradição nos seus próprios termos, para além de ser um absurdo porque não podemos abolir o indefinível (à luz de lógica humana).

Também não podemos definir “consciência”, mas parto do princípio de que o Domingos Faria tem consciência (embora eu não possa ter a certeza: só posso ter a certeza da minha consciência). Não é porque não podemos definir “consciência” que o Domingos Faria seria desprovido de uma.

O conceito de “consciência” também não tem definição, o que não significa necessariamente que o Domingos Faria seja inconsciente.

Se reduzirmos o conceito de “consciência” à actividade química do cérebro (ou seja, a redução da “consciência” ao concreto e ao exterior = epifenomenalismo), caímos no absurdo da Teoria da Identidade.

Mas isto, o Domingos Faria não irá certamente ensinar aos seus alunos: em vez disso, irá dizer-lhes que “cada um pode definir Deus, a realidade e a consciência, como quiser”.

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