quinta-feira, 31 de março de 2016

Os Direitos do Homem não são uma Política

 

“Os Direitos do Homem não são uma Política” [Marcel Gauchet, “Le Débat”, 1980].



A bandeira dos “direitos humanos” parece ser um sintoma da “incapacidade de conceber um futuro diferente para a nossa sociedade” [idem]. Começam a criar-se “direitos humanos” que nunca existiram; inventam-se novos “direitos humanos”, todos os dias. Todos os desejos subjectivos assumem, agora, a forma de “direitos humanos”. Entramos na fase final e decadente do liberalismo, em que o individualismo utilitarista levado ao extremo transforma o simples desejo em “direito humano”.

Invocando sistematicamente direitos, antigos e novos, para assim se romper com o “poder das tradições”, o que os “progressistas” estão a criar é um aumento progressivo da tutela da organização burocrática (como acontece hoje na União Europeia) em que, por um lado, se afirma a singularidade do indivíduo, mas por outro lado, esse indivíduo é concebido de forma abstracta e em um anonimato generalizado (atomização da sociedade).

O reconhecimento social de toda a espécie de direitos (por exemplo, “casamento” gay, adopção de crianças por gays, barrigas de aluguer, crianças a votar por intermédio dos pais, voto para adolescentes de 14 ou 15 anos, pederastia legalizada, etc., e o que mais por aí virá) e liberdades tem como contraponto o retraimento narcísico dos indivíduos e o seu desinteresse pela coisa pública, em que, finalmente, a omnipresente encenação da liberalização dos costumes encobre uma propensão para o mimetismo, um seguidismo, e um conformismo sem precedentes.

Os direitos entendidos como política envolvem a sujeição e a alienação, e conduzindo à atomização da sociedade, conduzem também à negação da própria democracia.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.