sexta-feira, 1 de abril de 2016

Eutanásia na saúde [Norberto Canha]

 

(Artigo do Professor Doutor Norberto Canha, catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, publicado no Diário das Beiras)

eutanasia-cadeiras
Pobres velhos! Aproxima-se a legislação que permitirá interromper a vida, não só aos velhos como aos imprestáveis.

A princípio destina-se a situações específicas, bem fundamentadas, depois, o leque estende-se e englobará até os legisladores.

Nós classificamos em três graus os idosos, os inválidos ou os deficientes.

Grau 1 – sem qualquer dependência para as actividades correntes

Grau 2 – com dependência moderada mas capacidade de exercer e executar as tarefas quotidianas da vida

Grau 3 – totalmente dependentes.

Tudo leva a crer que é para este terceiro grau de dependência a legislação, mas não inclui os psicopatas que invadem este mundo e não faltam neste país.

No tempo de doentes ultrapassado – sobretudo traumatismo cranio-encefálico – quando não reagia a qualquer estímulo, em midríase, ou o electroencefalograma não tinha oscilações, considerava-se em morte cerebral e desligava-se a máquina da respiração assistida. Não respirava por si. Morte cerebral.

A partir desse momento podia-se proceder à colheita de órgãos para transplantes se fosse consentido. Com esta morte assistida, será assim? Não se virá a tirar lucro da própria morte para a venda de órgãos?

Eu médico, decidi-me a esta profissão para salvar vidas e não para ser motorizado para a morte. Nunca o faria nem farei.

Quando o paciente estiver dependente de máquinas e sem reação, isso eu praticaria e aconselharia. Com a abrangência que se adivinha ou se poderá vir a cair, isso Não.


norberto_canhaVou puxar pela memória e recordar o ocorrido quando tinha à volta de vinte e poucos anos. Tínhamos duas éguas, a Joaquina mansarrona preferida pelas mulheres, puxava a charrua ou o arado mostrando vontade de agradar; a Carriça cavalgava, escolhida pelos homens, era contrariada que ajudava nas actividades agrícolas.

Engravidaram ao mesmo tempo, cada uma delas teve uma mula, irmãs, filhas do mesmo burro.

A filha da Carriça partiu o pé dianteiro, direito a cima da pata, onde desvia para fora. O veterinário aconselhou o abate; não tinha cura. Nós tínhamos afecto às mães e às filhas. Recusamos o conselho. Curou e embora com deformação deixou-se montar sem aprendizagem. E era tão boa ou melhor que a irmã a puxar e a levar a charrua ou o arado ou uma boa carga de sacos.

Eram diferentes. Embora filhas do mesmo pai.

Desde que não sejam violentos – e para isso há medicação – porque não estender aos nossos antepassados tanto ou mais carinho do que recebemos. É tomar a decisão pensada, mas fria da pena de morte assistida? Nunca! Eu sei que é penoso e trabalhoso, mas temos de pensar. Hoje são Eles. Amanhã seremos nós. O que é que o criador pensará de nós, duns e doutros?

Tu não acreditas, mas eu acredito. E para além da morte há outra vida!.

Não quero partir com tal penar!

A Eutanásia? Nunca! Não! Isso é comércio, é negócio do deve e haver.

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