quarta-feira, 4 de maio de 2016

Não percebeu o que eu quis dizer

 

A riqueza, entendida em si mesma, não é um mal. O que pode ser um mal é a forma como a riqueza é instrumentalizada. Foi isso que eu quis dizer aqui, mas que parece não ter sido compreendido.


1/ não há sociedades perfeitas, nem há modelos perfeitos de sociedade.

2/ não devemos confundir uma sociedade em que o justo e o bem se identificam (conservadorismo), com outra sociedade em que o bem é privado e o justo é público (liberalismo).

Na primeira, mesmo que o patrão ganhe 100 vezes mais do que o operário, esse dinheiro acaba sempre por beneficiar a comunidade em geral. Por exemplo, as obras-primas do Renascimento não seriam possíveis sem os “patrões” que ganhavam 100 mais do que os camponeses, sendo que, naquela época, o justo e o bem coincidiam.

3/ O capitalismo é um sistema económico que se baseia na propriedade dos meios de produção e que pressupõe a concentração de capitais.

Segundo esta definição, podemos falar em capitalismo ateniense (da Atenas da Grécia antiga), de capitalismo romano do fim do império romano, de um capitalismo bancário na Idade Média (os templários), de um capitalismo do Renascimento (Florença, Nuremberga), e, finalmente, também podemos falar de um capitalismo de Estado (URSS, Cuba, etc.). Porém, quando até há pouco tempo se falava em “capitalismo”, referia-se normalmente ao liberalismo económico da escola escocesa de economia que teve o seu principal intérprete em Adam Smith.

No sentido estrito do termo, o capitalismo surge nos países e nas épocas em que a civilização material tem acesso ao maquinismo e à indústria (revolução industrial), exigindo o investimento de um capital considerável e favorecendo a sua concentração. Nestes países, o essencial da massa financeira pertence de particulares (indivíduos ou sociedades anónimas) e em que a intervenção do poder político na economia é limitada (capitalismo liberal).

No sentido lato do termo, chama-se capitalismo ao sistema económico em que os meios de produção são utilizados pelos trabalhadores, que não são proprietários deles, desde que haja concentração de capitais. Neste caso será possível falar de um capitalismo ateniense no século IV a.C., de um capitalismo romano no fim do império, de um capitalismo bancário na Europa dos séculos XV e XVI, de um capitalismo local (por exemplo, Florença, Nuremberga) alicerçado no poderio comercial e que nos séculos XVII e XVIII desempenhou um importante papel na desagregação do sistema feudal.

Chama-se capitalismo de Estado ao sistema no qual o Estado é proprietário dos meios de produção.

O capitalismo de Estado é diferente do capitalismo privado ou liberal, e também é diferente do sistema em que os próprios trabalhadores, sem mediação do Estado, seriam proprietários dos meios de produção (por exemplo, no Cooperativismo ou no Distributismo).

O regime económico da ex-URSS, ou de Cuba, ou ainda da Coreia do Norte, são formas de capitalismo de Estado e praticam o colectivismo.

Portanto, sempre houve capitalismo. O problema não é o capitalismo, entendido em si mesmo: o problema é a metafísica do capitalismo (aquilo que subjaz ao capitalismo: a cultura antropológica).

4/ Não devemos criticar o capitalismo praticado na Europa só porque existem escravos na Indonésia ou na Conchichina. O problema não é o capitalismo em si mesmo: seria como se criticássemos o automóvel porque causa acidentes mortais, em vez de criticarmos os maus condutores.

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